Uma série de falhas nos sistemas informáticos do Ministério da Saúde está a forçar o adiamento de centenas de consultas e exames de diagnóstico por todo o país.
A Ordem dos Médicos (OM) escreveu um ofício aos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) – a entidade que gera todo o sistema informático – e ao próprio Ministério a alertar para a gravidade do problema.
A situação não é nova mas tem assumido proporções preocupantes nos últimos dias, com os programas informáticas a bloquearem com demasiada frequência. Sem o apoio tecnológico, até a prescrição de medicamentos está a ser afetada.
Em comunicado, a OM critica o “excesso de procedimentos informáticos” que os médicos são obrigados a fazer e “que só penalizam o tempo destinado a observar os doentes e podem comprometer a qualidade dos cuidados de saúde”. O bastonário da OM considera a situação“uma vergonha”. “Hoje, um médico passa mais de 50% do tempo de consulta ao computador e menos tempo a ouvir e a observar o seu doente”, o que é “inadmissível”, enfatiza.
Muitas críticas e um desabafo
Miguel Guimarães divulgou o relato de uma “médica desgastada com os problemas informáticos”. “Os danos informáticos infiltram toda a nossa prática clínica, pela raiva que nos provoca o facto de serem estúpidos, injustificáveis, alvo de propaganda desonesta e arbitrários; é que enquanto andamos nisto e bufamos e praguejamos todos os dias frente às aplicações informáticas que não funcionam, não estamos a ser empáticos, não estamos a questionar a nossa própria prática, não estamos a pesquisar fontes de informação credíveis que a sustentem, não estamos a ser criativos, a investigar, a apoiar-nos mutuamente dentro das equipas…”, desabafa a médica.
Ainda há pouco dias o presidente da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar (USF-AN), João Rodrigues, queixou-se especificamente da falha informática a nível nacional que se verifica num dos sistemas, o SClínico, que desde esta segunda-feira “se encontra persistentemente a falhar no seu módulo de prescrição de exames de diagnóstico e terapêutica”.
Esta quinta-feira, à TSF, João Rodrigues explicou que a referida aplicação “foi lançada isoladamente sem estar finalizada e testada” e que a maior parte das vezes está a falhar. A USF-AN pede à ministra da Saúde, Marta Temido, que “abandone” a “passividade” e exija soluções aos responsáveis pelos sistemas informáticos.
Outro coro de críticas vem do presidente da Secção Centro da OM, que considerou a atual situação uma “catástrofe”. “Todos os programas estão a funcionar mal”, garante Carlos Cortes à TSF. No mínimo, um médico, acrescenta Carlos Cortes, demora três minutos à espera que o sistema informático responda ao pedido de um exame. A situação acontece sobretudo nos centros de saúde, mas também nos hospitais.
Fonte: Saúde Online