O bastonário da Ordem dos Farmacêuticos disse hoje que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) não está a garantir cuidados com a melhor qualidade a todos os utentes, que têm de pagar mais pelos serviços e medicamentos.
“Se olharmos para a despesa com medicamentos de ambulatório no primeiro semestre deste ano, a comparticipação do Estado aumentou 3,4%, enquanto a do utente aumentou 6,8% (o dobro do Estado)”, revelou Hélder Mota Filipe, nas comemorações do Dia do Farmacêutico, em Coimbra.
Na sua intervenção, o dirigente alertou que a “sustentabilidade do SNS é um desafio cada vez maior” e que a inovação terapêutica, “muita dela disruptiva e de inegável mais-valia para os doentes é cada vez mais cara”.
Segundo o bastonário, desde 2021 que a despesa com medicamentos hospitalares cresce a dois dígitos, “mais de 10% relativamente ao ano anterior”.
“O primeiro semestre deste ano mostra que a tendência se mantém (12,5%)”, acrescentou Hélder Mota Filipe, referindo que, em alguns hospitais, a rubrica para medicamentos já ultrapassou a dos “recursos humanos”.
Salientando que os farmacêuticos são “fundamentais no uso racional e custo-efetivo” de todos os medicamentos, nomeadamente nos inovadores e de elevado custo, o dirigente denunciou a “situação crítica” que afeta os profissionais do SNS devido à falta de condições materiais, de equipamento e recursos humanos.
Além destas situações, insistiu na falta de reconhecimento profissional e na desmotivação e descontentamento de centenas de profissionais, “que pode ser ilustrada por uma grelha salarial que não é revista desde 1999, ou por um crónico congelamento da progressão na carreira”.
“Não será compreensível nem aceitável para Ordem dos Farmacêuticos (e penso poder falar por cada um dos farmacêuticos) que outras classes profissionais da saúde vão tendo as suas condições salariais revistas recentemente, e muito justamente, ficando os farmacêuticos mais uma vez esquecidos e marginalizados”, sublinhou.
O bastonário salientou o envolvimento das farmácias comunitárias na vacinação contra a gripe e a covid-19, “que permite uma cobertura geográfica homogénea em todo o país, com profissionais farmacêuticos competentes, que se traduz num enorme contributo no domínio da saúde pública”.
Na intervenção, defendeu que “está na altura de discutir a possibilidade de os farmacêuticos comunitários poderem administrar outras vacinas do Plano Nacional de Vacinação, nomeadamente contra a difteria e o tétano em adultos”.
Relativamente à dispensa de medicamentos hospitalares em proximidade, Hélder Mota Filipe disse que a Ordem aguarda publicação dos regulamentos internos das unidades hospitalares e a implementação dos sistemas de informação de suporte ao processo, “de enorme utilidade para os utentes”.
De acordo com o dirigente, estima-se que 200 mil utentes possam beneficiar deste serviço.
“Não será aceitável terminarmos mais um ano sem que o serviço esteja efetivamente em funcionamento”, enfatizou.
O bastonário anunciou ainda a realização do Congresso Nacional dos Farmacêuticos para 21, 22 e 23 de novembro, presidido pelo professor Rui Medeiros.
Nas comemorações do Dia Nacional do Farmacêutico, que decorreram no Convento São Francisco, a Ordem atribuiu três medalhas de honra, a mais alta distinção, uma das quais ao reitor da Universidade de Coimbra, Amílcar Falcão.