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Médio Oriente: Trégua permite vacinar 72 mil crianças contra poliomielite num dia em Gaza

Lusa
02-09-2024 08:08h

Mais de 72 mil crianças palestinianas foram vacinadas contra poliomielite no arranque de uma trégua localizada na Faixa de Gaza, segundo as autoridades locais.

Erradicado do território há 25 anos, o vírus foi descoberto em meados de agosto num bebé de 10 meses, desencadeando esforços de agências humanitárias no terreno para vacinar com urgência as crianças e assim evitar uma epidemia no território palestiniano fustigado há 10 meses pelos ataques do Exército israelita.

A AFP verificou que a vacinação decorre em vários pontos do território, como num dispensário do campo de refugiados de al-Zawayda, onde um enfermeiro ministrava hoje às crianças as duas gotas que constituem a primeira dose da vacina contra a pólio.

Os pais de algumas crianças relataram à agência no local que não puderam vaciná-las por terem desde início do conflito estado em deslocação quase constante dentro do território, devido às ordens de evacuação do exército israelita.

O Ministério da Saúde de Gaza registou 72.611 crianças vacinadas no primeiro dia de trégua.

Gaza recebeu 1,26 milhões de doses de vacina oral (duas gotas nesta primeira fase de imunização), bem como equipamento para assegurar a cadeia de frio, com o objetivo de imunizar 640.000 crianças com menos de 10 anos e atingir uma cobertura de 90% para travar o atual surto de poliomielite.

Para Louise Wateridge, da UNRWA, a agência da ONU responsável pelos refugiados palestinianos, hoje foi "um dos dias mais bonitos em Gaza desde o início da guerra", mas persiste a dúvida sobre "o que acontecerá após a 'pausa'".

Dos 36 hospitais de Gaza, apenas 17 ainda funcionam parcialmente, muitos deles ocupados por feridos de guerra, estimados em mais de 94 mil, segundo o Ministério da Saúde do governo do Hamas.

O mesmo ministério contabiliza pelo menos 40.738 mortes desde início do conflito.

A guerra em Gaza foi desencadeada pelo ataque sem precedentes pelo movimento islamista palestiniano Hamas contra Israel no dia 07 de outubro de 2023, que resultou na morte de 1.205 pessoas do lado israelita, maioritariamente civis, segundo um levantamento da AFP com base em dados oficiais.

Israel aceitou que a ONU conduza a campanha de vacinação em três fases: três ou quatro dias, conforme necessário, no centro da faixa de Gaza, seguidos de outros tantos dias no sul e depois no norte da faixa de Gaza.

No território, onde a quase totalidade dos 2,4 milhões de habitantes foi deslocada pela guerra, os campos de tendas são focos de epidemias, conforme alertam constantemente os médicos, devido à concentração de pessoas, falta de água e de higiene e desnutrição, estando as crianças e menores em maior perigo.

Equipas móveis vão, nestes campos, de tenda em tenda para administrar duas gotas a cada criança antes de marcar uma das suas unhas com caneta preta para certificar a vacinação, refere a AFP.

Mãe de cinco filhos, Ghadir Hajji relatou à AFP ter recebido mensagens de texto do ministério da Saúde para apresentá-las imediatamente num posto de vacinação.

Tomada a primeira dose da vacina, daqui a quatro semanas será necessária uma segunda.

Se pelo menos 90% das crianças de Gaza também as receberem, a propagação será interrompida, segundo a ONU.

As pausas humanitárias não representam um cessar-fogo e terão uma duração de oito horas por dia.

No total, serão criados 392 postos de vacinação fixos e 300 postos de vacinação móveis para chegar às famílias com problemas de mobilidade, envolvendo 2.180 profissionais de saúde e agentes comunitários formados, para os quais a Organização Mundial de Saúde pediu segurança total.

A poliomielite é uma doença altamente infecciosa que afeta principalmente as crianças pequenas. Ataca o sistema nervoso, pode levar à paralisia e, em alguns casos, à morte.

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