O Movimento de Utentes dos Serviços Públicos (MUSP) denunciou hoje a existência de uma suposta aliança entre o Governo e os privados na saúde, face à degradação da situação no SNS, considerando “um escândalo” o tratamento às grávidas.
A porta-voz do MUSP, Cecília Sales, criticou a “falta de investimento nos profissionais e na organização do trabalho” no Serviço Nacional de Saúde (SNS), que considerou perdurar há décadas, e a “opção política” de enviar para as unidades hospitalares do setor privado sempre que se encerram serviços no setor público, com particular enfoque nos recentes constrangimentos ao nível da especialidade de obstetrícia.
“O tratamento que se está a dar às grávidas e às famílias, com a ansiedade que o nascimento de uma criança provoca, é inconcebível e inaceitável”, afirmou à Lusa a porta-voz deste movimento com cerca de 20 anos de existência, sublinhando: “A tentativa de destruir uma coisa tão positiva e reconhecida internacionalmente como o SNS é muito aflitiva”.
Para a porta-voz do movimento, estas questões “vão degradando o SNS até à sua destruição total”, assinalando o peso que os privados já assumem no orçamento do Estado para o setor da saúde e o seu reforço com o encerramento de serviços e unidades públicas para levar à abertura de mais instalações privadas nas diferentes localidades.
Numa nota enviada às redações, o MUSP realçou também a passagem de situações isoladas de fecho de serviços para uma rotina que se instalou no SNS.
“Os processos de encerramento passaram rapidamente a prática corrente nos mais diversos serviços de urgência, quando não em todo o serviço de urgência em hospitais da área metropolitana de Lisboa”, pode ler-se no comunicado.
Segundo o movimento, a demora na abertura de concursos de admissão de médicos recém-formados e o reduzido número de vagas na área da ginecologia/obstetrícia “confirma a intenção do Governo, em aliança com os privados, de reduzir o acesso à especialidade” dentro do SNS.
“O Movimento de Utentes dos Serviços Públicos há muito tempo que vem alertando a população e os utentes para esta saga persecutória ao SNS. Estes diversos encerramentos dos Serviços de Urgência, fruto do desinvestimento dos Governos, PS e PSD/CDS no SNS, em conluio com os privados, (…) é uma estratégia política e ideológica que deve ser combatida por todas as comissões de utentes do país”, conclui a nota do MUSP.