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Covid 19: Itália tem o maior número de casos na Europa mas medidas provocam instabilidade

LUSA
09-03-2020 15:54h

As autoridades italianas impõem multas e detenções a quem desrespeita o isolamento do norte do país no mesmo dia em que hoje um motim na prisão de Modena contra as medidas restritivas e uma queda de 9% na bolsa de Milão.

O governo decretou medidas de "concentração" em 14 províncias do norte do país que soma 6.387 contaminados e 366 mortos pelo novo coronavirus.

Na sequência das medidas restritivas, verificou-se hoje uma revolta no estabelecimento prisional de Modena, no norte, que provocou a morte a três reclusos.

O motim na prisão de Modena começou após terem sido anunciadas as restrições ao regime de visitas impostas pelo governo para conter a propagação do novo coronavirus.

Fontes do Ministério da Justiça confirmaram as três mortes em Modena durante a revolta mas afirmam "que podem não estar diretamente relacionadas" com o motim.

As autoridades indicam que dois cadáveres não apresentam lesões físicas pelo que "podem ter sido vítimas do uso de drogas" e que um terceiro corpo foi encontrado com sinais de violência.

O governo de Roma decretou o isolamento de toda uma região habitada por 16 milhões de pessoas onde estão, de acordo com as autoridades, concentrados os casos de Covid-19.

A circulação só é permitida por motivos laborais considerados excecionais, por questões médicas e "urgências".

Uma diretiva do Ministério do Interior difundida nas últimas horas estabelece sanções para quem não respeite o isolamento aplicando o artigo 650.º do Código Penal que prevê três meses de prisão e uma multa de 206 euros, por desacato.

A sanção pode aumentar se uma pessoa contaminada deixar de cumprir a quarentena aplicando-se o artigo 452.º do Código Penal que estipula penas de prisão de três anos até cadeia perpétua, caso o implicado provoque uma epidemia ou contamine água, alimentos ou outros bens de consumo.

As regiões abrangidas pelas novas ordens são: Lombardia, Piacenza, Modena, Reggio Emilia, Parla e Rimini em Emilia-Romana (norte; Veneza, Pádua, e Trevisto, em Veneto (norte); Pesaro e Urbino na região de Marcas (centro) e Vercelli, Novara, Verbano-Cusio-Ossola, Alessandria e Asti na região de Piamonte (noroeste).

Hoje, no norte de Itália, a bolsa de Milão registou uma queda de 9%, a maior em toda a Europa, refletindo as consequências do Covid-19.

Quando o governo emitiu o decreto no domingo à noite, as autoridades locais, sobretudo as autarquias exigiram de imediato esclarecimentos sobre a forma de implementação das medidas.

Entre outros aspetos, o decreto pede para que sejam "evitados" os movimentos de pessoas das regiões apontadas: entradas, saídas e circulação interna.

A exceção pode abranger os habitantes das zonas sob controlo, caso os cidadãos tenham justificações especiais por motivos de trabalho ou "exigências" especiais como problemas de saúde.

Os restantes habitantes ficam "absolutamente proibidos" de quebrar a quarentena.

O bloqueio não afeta o transporte de mercadorias que podem entrar e sair dos territórios sob vigilância - os mais industrializados de Itália - mas "as empresas transportadoras devem limitar-se às exigências de entrada ou retirada da carga".

Uma das dúvidas que suscitou o decreto foi o modo de controlo de uma zona demasiado grande tendo, o primeiro-ministro Giuseppe Conte, afirmado que os corpos de segurança estão mobilizados.

As zonas mais controladas são onze pequenas autarquias da Lombarida e Veneto com um total de 55 mil habitantes que estão sob vigilância do Exército.

A ministra do Interior, Luciana Lamorgese enviou no domingo à noite uma diretiva aos delegados do governo locais explicando que o as medidas compreendem o controlo por mar, terra e ar.

O documento estabelece que a circulação nas restantes zonas denominadas como "concentração reforçada" exige a "autocertificação", ou seja: cada cidadão tem de justificar o movimento por motivos de saúde ou trabalho.

A polícia controla os acessos por estrada e verifica os certificados cuja veracidade pode ser analisada.

Os transportes ferroviários são controlados pela polícia em colaboração com a Proteção Civil e de elementos da empresa Ferrovie dello Stato que vão passar a controlar as saídas das zonas recolhendo certificados e verificando o estado de saúde dos viajantes medindo-lhes a temperatura.

Nos aeroportos como Milão, por exemplo, os passageiros são submetidos a um controlo que exige um certificado.

Os passageiros dos voos internacionais, para dentro ou fora do espaço Schengen apenas devem apresentar o certificado os habitantes dos territórios italianos referenciados no decreto.

Os passageiros estrangeiros devem "explicar os motivos da viagem".

As mesmas medidas são aplicadas aos turistas e tripulantes a bordo de cruzeiros que aportem em Veneza não podendo desembarcar porque a área está isolada.

No resto do país continuam em vigor uma série de limitações "para travar os contágios" como a suspensão de aulas nos estabelecimentos de ensino, incluindo universidades.

As manifestações ou eventos culturais estão suspensos, assim como o funcionamento de salas de cinema ou discotecas.

Dez regiões do centro e do sul de Itália estabeleceram igualmente controlos para as pessoas que são originárias das zonas isoladas do norte ou que tenham transitado pelas regiões "fechadas".

A Toscânia, Lacio, Apulia, Calabria, Molise, Basilicata, Abruzos, Campania e as ilhas da Sicília e Sardenha são as regiões do centro e do sul que mantêm as medidas de excecionais de vigilância.

Em Itália, à margem das medidas de contenção o grupo de músicos "Rimbamband" - composto por Raffaello Tullo, Renato Ciardo, Nicolò Pantaleo, Vittorio Bruno, Francesco Pagliarulo - tornou-se "viral" através das plataformas digitais (https://www.youtube.com/watch?v=MVqLWAUMhnYcom) a música "Virus Corona" adotando a música "My Sharona" da banda de norte-americana "The Knack" (1979) com uma letra em que pede bom senso em relação às medidas de contingência.

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