SAÚDE QUE SE VÊ

Portugueses constroem equipamentos para crianças cabo-verdianas com necessidades

LUSA
07-07-2022 12:12h

Uma experiência piloto envolvendo uma missão de terapeutas de uma associação portuguesa ajudou a construir equipamentos para crianças da ilha de São Vicente com necessidades especiais, inexistentes no arquipélago.

“Após avaliações da missão de neuropediatria, vimos a necessidade de algumas crianças terem dispositivos em casa que auxiliassem a melhoria do tratamento. Então, em concertação com as voluntárias da associação, programamos para este ano a confeção destes aparelhos, que irão auxiliar as crianças”, explicou à Lusa a fisioterapeuta da Delegacia de Saúde de São Vicente, Ronice Soares.

Este projeto-piloto foi desenvolvido em parceria das autoridades de saúde de São Vicente e a associação portuguesa “Ser Mais Dar Mais, Terapeutas Sem Fronteiras”, com sede em Rio Tinto, Portugal, e cinco profissionais portuguesas, voluntárias daquela organização sem fins lucrativos que desenvolve atividade em África, que estiveram nos últimos dias naquela ilha cabo-verdiana, tal como em anos anteriores.

De acordo com Ronice Soares, sempre que há alguma missão da associação em Cabo Verde são programadas atividades de acordo com as necessidades locais, como aconteceu no último mês, na confeção destes equipamentos.

Um dos equipamentos construídos localmente ao abrigo desta parceria foi uma cadeira de posicionamento, para evitar que as crianças passem muito tempo deitadas ou no colo da mãe.

“É uma forma da criança ser colocada em outras posturas, com alinhamentos que irá ajudar nos seus padrões motores. Ou seja, já não fica tão estático, ou rígido, tem uma postura mais adequada na hora de deitar e auxilia a mãe a ficar menos preocupada e a fazer as suas obrigações sem se preocupar tanto com o filho”, assegura Ronice Soares.

Outro equipamento desenvolvido foi um ‘standing frame’, aparelho que coloca a criança numa postura de pé, ou na vertical, ajudando no tratamento de cada condição.

“O aparelho auxilia no caso de crianças terem algum distúrbio que as impossibilita de estarem nesta postura. Vai ajudar no fortalecimento, em todas as áreas, o que lhe permitirá ganhar essa habilidade, de ficar em pé sozinha. Então tendo esse aparelho em casa, a mãe já consegue colocá-lo em pé mais vezes e a criança já vai fazendo o treino em casa, o que irá ajudar muito no tratamento”, sublinha a responsável da Delegacia de Saúde.

Em São Vicente, a missão portuguesa envolveu Ana Francisca Loureiro, enfermeira, Rafaela Pereira, que trabalha com psicomotricidade e educação especial, Eunice Cavaco, da área da educação especial, Inês Pinto, fisioterapeuta, e Raquel Grangeia, de gerontologia.

Entre outro trabalho desenvolvido no terreno, no apoio com as autoridades de saúde locais, os aparelhos desenvolvidos ao abrigo desta missão, com o acompanhamento técnico das profissionais portuguesas, permitirão diminuir custos, facilitando o acesso a crianças de famílias mais desfavorecidas.

“Estes aparelhos originais, vindos de fábrica, não são acessíveis, não há à venda em Cabo Verde e quem conseguir encomendar, até chegar aqui, sai um pouco mais caro. O objetivo desta missão e desta construção era fazer estes dois aparelhos com materiais que se encontram aqui em São Vicente e que sirvam de modelo para outros pais replicarem”, explica Ronice Soares.

Garante que o preço dos equipamentos construídos nos últimos dias pode variar entre os 2.000 e os 5.000 escudos (18 a 45 euros), enquanto os de fábrica custam quatro vezes mais.

Uma experiência piloto que, afirma, irá democratizar o acesso a estes equipamentos de apoio, garantindo que a própria estrutura de saúde irá informar os pais sobre a sua produção, incluindo com o envolvimento de costureiras locais formadas pelas técnicas portuguesas.

Esta ação, que teve o apoio da Organização das Mulheres de Cabo Verde, envolveu outros negócios locais e profissionais, como carpinteiros, costureiras e lojas para encomenda de alguns materiais necessários, todos indicados pela própria instituição de saúde aos familiares das crianças que necessitam deste apoio para a sua construção.

Além de crianças com necessidades especiais, a missão portuguesa, que esteve em São Vicente de 24 de junho a 03 de julho, trabalhou também com idosos e grávidas.

MAIS NOTÍCIAS