O uso intensivo de telemóveis e de redes sociais está associado a um aumento dos problemas mentais, comportamentos de automutilação e suicídio entre os jovens, segundo um estudo canadiano que mostra que o fenómeno afeta mais as raparigas.
Uma equipa de investigadores de um hospital infantil em Toronto publicou hoje na revista Canadian Medical Association Journal (CMAJ) um estudo que reafirma os efeitos nocivos do uso das redes sociais entre os jovens.
As doenças mentais, os comportamentos auto-lesivos e as tentativas de suicídio aumentaram nos últimos anos entre a população adolescente.
Existe uma relação entre estes fenómenos e o uso excessivo das redes sociais e “os efeitos parecem ser maiores entre as raparigas”, refere o estudo que está disponível na página na internet da CMAJ.
O estudo agora divulgado, na véspera do Dia da Internet Mais Segura, é baseado na revisão sistemática de outros 20 estudos que foram realizados nos últimos anos com crianças e adolescentes de vários países.
Os investigadores do hospital infantil Sick Kids, em Toronto, analisaram os dados sobre o uso de telemóveis e internet que alertam para as redes sociais poderem afetar a forma como os adolescentes se veem, assim como as relações que criam com quem os rodeia.
As comparações sociais e as interações negativas, incluindo o ‘bullying’, foram alguns dos problemas detetados.
Além disso, continua o estudo, em alguns casos as redes sociais passam a ideia de uma “normalização da automutilação e do suicídio entre os jovens”.
Outras das consequências do uso excessivo destas tecnologias são a privação do sono e a diminuição da performance académica.
“São precisas campanhas públicas de consciencialização assim como políticas sociais que promovam ambientes domésticos e escolares que aumentem a resiliência dos jovens enquanto navegam nos desafios da adolescência do mundo de hoje”, defende o estudo.
Em Ontário, a percentagem de adolescentes identificados como tendo problemas de saúde mental tem vindo a aumentar: em 2013 eram 24%, subiu para 34% em 2015 e chegou aos 39% em 2017.
Também as consultas e admissões de crianças e jovens nos serviços de saúde por questões de saúde mental aumentaram um pouco por todo o país.
Os investigadores sublinham ainda que o problema afeta mais as raparigas: os casos de automutilação feminina dispararam entre 2009 e 2014, tendo-se registado um aumento de 110%.
No Canadá, o suicídio é a segunda maior causa de morte entre os jovens, uma realidade que se repete noutros países. Nos Estados Unidos da América, as tentativas e ideias suicidas entre as crianças e adultos quase duplicaram entre 2008 e 2015. Também na América, o fenómeno tem mais impacto entre as raparigas.
Outros dois estudos – um realizado por investigadores americanos e outro por alemães – mostraram que os alunos que passam mais tempo no Facebook acabam por ter inveja dos amigos e a sensação de os outros terem invariavelmente uma vida melhor.
Se os investigadores não têm dúvidas de que o uso excessivo de ‘smartphones’ e muitas horas nas redes sociais são prejudiciais para os jovens, o mesmo não se pode dizer dos jogos ‘online’: “Não foram encontradas evidências” dos efeitos negativos deste tipo de atividades.