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Confiança na UE desce na pandemia mas há sólido apoio à continuação do bloco - Relatório

LUSA
09-06-2021 12:47h

A confiança na União Europeia (UE) caiu durante a pandemia da covid-19, mas há um sólido apoio à continuação da adesão em todos os países ao bloco europeu, segundo um relatório hoje publicado.

O relatório, resultante de uma sondagem do Conselho Europeu para Relações Externas (ECFR), constatou que a confiança na UE caiu durante a pandemia de covid-19 e que em países como a Alemanha, França, Espanha e Itália, a maioria dos cidadãos vê agora o projeto europeu como “em rutura”.

Em metade dos Estados-membros inquiridos, a maioria dos cidadãos afirmou ter pouca confiança na UE ou então que a sua confiança se tinha deteriorado na sequência dos acontecimentos do ano passado.

A maioria das pessoas questionadas em França (62%), Alemanha (55%), Itália (57%), Espanha (52%) e Áustria (51%) defendem agora que o projeto europeu está "em rutura", segundo o estudo.

A sondagem do ECFR, realizada pelas Alpha, Analitiqs, Dynata, YouGov e Datapraxis em 12 Estados-membros da UE, mostrou também a profunda desilusão dos cidadãos com os seus sistemas políticos nacionais.

Por exemplo, em França, onde os eleitores irão às urnas em 2022, dois terços dos inquiridos (66%) defendem agora que o seu sistema político nacional está "em rutura". Simultaneamente, há maiorias significativas a partilhar desta opinião noutros países – Itália (80%), Espanha (80%), Bulgária (63%), Portugal (55%), Polónia (60%) e Hungria (54%), segundo o estudo.

No entanto, apesar do desempenho conturbado no ano passado, existe, em todos os países, um sólido apoio à continuação da participação na União Europeia, com muitos interessados em ver uma maior cooperação na construção da UE como um ator global.

Em todos os países inquiridos, exceto na França e na Alemanha, a maioria dos inquiridos afirmou que a crise do novo coronavírus revelou a necessidade de uma maior colaboração entre os Estados-membros.

A resposta mais dada quando se perguntou aos inquiridos como é que a Europa deveria mudar após a covid-19 apontou para a criação de uma resposta coletiva às crises globais.

A sondagem do ECFR também identificou um sentimento positivo em relação à continuação da adesão à UE – com os cidadãos em 11 dos 12 Estados-membros inquiridos a acreditar que a manter-se na UE é “uma coisa boa” para o seu país. A exceção foi França, onde a resposta mais frequente foi a de que a adesão não é “nem uma coisa boa, nem uma coisa má”.

Sobre as atitudes em relação a outros atores globais, o ECFR constatou que os europeus veem agora um mundo de parceiros estratégicos, em vez de alianças naturais. Isto inclui os Estados Unidos, bem como o Reino Unido, onde o ECFR detetou alterações evidentes na opinião dos cidadãos.

Dos Estados-membros inquiridos, viu-se que apenas um, a Dinamarca, vê o Reino Unido como um “aliado” fundamental.

A Turquia é o único país visto como “rival” por diversos inquiridos – com todos os outros atores globais, incluindo a China e a Rússia, vistos como parceiros estratégicos.

No entanto, os europeus continuam cautelosos em relação à China, e, tal como em relação à Turquia, favorecem respostas mais firmes da UE à sua violação do Direito Internacional. Curiosamente, apenas 17% dos inquiridos na sondagem do ECFR veem a Rússia como “adversário” – um número que desce para 5-7% entre búlgaros, italianos e portugueses.

Segundo as autoras do relatório, Susi Dennison e Jana Puglierin, estes resultados da sondagem sobre as atitudes dos cidadãos um ano após o início da pandemia da covid-19, deveriam servir de “chamada de atenção” para os que se encontram em Bruxelas.

Os resultados foram também aproveitados pelo ECFR para traçar um mapa relativamente à forma como a Alemanha pode reestruturar a sua relação com a Europa antes das suas próximas eleições.

Susi Dennison e Jana Puglierin instaram os representantes da UE a mostrar liderança nas cimeiras deste mês – do G7, da NATO e UE-EUA – e advertiram que a sólida convicção na necessidade de cooperação europeia “não se conseguirá manter caso haja mais fracassos”.

A investigação para esta publicação foi financiada pelo apoio da Stiftung Mercator ao projeto  Re:shape Global Europe. A sondagem à opinião pública portuguesa foi financiada pela Fundação Calouste Gulbenkian.

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