SAÚDE QUE SE VÊ

Vírus: Human Rights Watch deteta “grandes problemas” na resposta chinesa ao coronavírus

LUSA
06-02-2020 18:35h

A Human Rights Watch (HRW) apontou hoje “grandes problemas” à resposta da China ao surto do novo coronavírus detetado naquele país, denunciando que a conduta de Pequim só agravou a propagação da estirpe, que já fez 563 mortos.

“Houve grandes problemas na resposta da China ao coronavírus que agravaram o surto”, disse o diretor da HRW, Kenneth Roth, em declarações aos ‘media’ em Genebra (Suíça), apontando, entre outras falhas, a realização de quarentenas em massa.

Kenneth Roth denunciou igualmente como problemas a “eliminação” de relatórios sobre a presença do vírus na China durante os primeiros dias do surto, bem como os esforços de Pequim para silenciar as críticas, grande parte divulgadas via redes sociais, contra o plano de contingência traçado pelas autoridades.

“Não há espaço para segredos na luta contra uma epidemia”, afirmou Roth, que em meados de janeiro último foi impedido de entrar em Hong Kong, região administrativa da China, onde planeava apresentar o relatório anual da organização não-governamental (ONG) de defesa dos direitos humanos.

“Chegou a hora da transparência total, mesmo que ela seja embaraçosa, porque a saúde pública deve vir antes da preservação de um poder político particular. Infelizmente, não é essa a abordagem de Pequim", prosseguiu o diretor da HRW.

O novo vírus (2019-nCoV) pertence à mesma família do vírus da síndroma respiratória aguda (SARS, na sigla em inglês), que atingiu 5.327 pessoas entre novembro de 2002 e agosto de 2003 e foi responsável por 800 mortes, a grande maioria na China.

Atualmente, e segundo os dados oficiais mais recentes, mais de 28.000 pessoas estão infetadas com o novo coronavírus na China, onde várias cidades têm imposto medidas drásticas de confinamento a dezenas de milhões de pessoas.

Uma dessas cidades é Wuhan, na província de Hubei (centro da China), onde o novo vírus foi identificado pela primeira vez e onde está identificado o epicentro do surto.

Segundo Kenneth Roth, este tipo de quarentena “geralmente não funciona”.

“As quarentenas recomendadas pelas autoridades de saúde pública são muito mais direcionadas. São direcionadas para pessoas que foram identificadas como portadoras do vírus”, salientou o representante, insistindo: “As pessoas precisam de ser alimentadas, alojadas, de receber cuidados e existem enormes lacunas na resposta do governo chinês a estas necessidades individuais".

Também hoje a Amnistia internacional (AI) focou como a temática dos direitos humanos deve ser salvaguardada perante o atual surto.

A AI pediu hoje os governos que evitem violar os direitos humanos dos cidadãos ao mesmo tempo que tentam conter e eliminar o surto do novo coronavírus.

A organização internacional alertou, por exemplo, contra o aumento do uso da censura, de detenções arbitrárias ou de outras restrições, instando as autoridades a garantirem de que todas as pessoas infetadas tenham acesso a cuidados de saúde.

Um dos maiores riscos da atual situação envolve potenciais atitudes de discriminação e de xenofobia, ações decorrentes do medo de contágio, seja dentro ou fora do território chinês.

Segundo informações recolhidas pela Amnistia Internacional, há relatos de pessoas que foram rejeitadas em hotéis, que são mantidas como prisioneiras nas próprias casas ou que viram os seus dados pessoais a serem publicados na Internet sem autorização.

“O governo chinês deve tomar medidas para proteger as pessoas da discriminação, enquanto os governos em todo o mundo devem adotar uma abordagem de tolerância zero perante atos racistas visando pessoas de origem chinesa e asiática”, declarou o diretor regional da AI para o Sudeste Asiático e Ásia Oriental, Nicholas Bequelin.

Além do território continental da China e das regiões chinesas de Macau e Hong Kong, há outros casos de infeção do novo coronavírus confirmados em mais de 20 países.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou em 30 de janeiro uma situação de emergência de saúde pública de âmbito internacional, o que pressupõe a adoção de medidas de prevenção e coordenação à escala mundial.

MAIS NOTÍCIAS