SAÚDE QUE SE VÊ

Mais Proximidade ajuda a combater isolamento de 120 idosos do centro de Lisboa

LUSA
08-04-2021 22:14h

Nadine Pinto e Délia Vigário vivem num prédio de cinco andares sem elevador, junto ao Martim Moniz, em Lisboa, e fazem parte de um grupo de cerca de 120 idosos isolados que recebe apoio permanente da Associação Mais Proximidade.

Passa pouco das 18:00 e, para lá do reboliço de gente que passa pela praça do Martim Moniz, num prédio na Rua dos Cavaleiros, está Nadine Pinto, de 73 anos, à porta de casa, no quinto andar.

Não consegue descer a “escadinha maravilhosa” do prédio, como descreve com ironia, pelo que só sai de casa para algum tratamento médico que não seja possível ser feito no seu domicílio.

Questionada sobre o que faz para passar o tempo, Nadine conta que gosta “muito de ver o ‘Joker’”, tendo também começado a fazer sopa de letras recentemente. E só não vê mais televisão porque “é só anúncios e comida”.

“No outro dia fizeram uma caldeirada e eu fiquei com água na boca. É um exagero”, considera.

Nadine Pinto recebeu recentemente um ‘tablet’, no âmbito de um projeto piloto da Associação Mais Proximidade.

“Eu não me ajeito com isso. Mas, já ponho Júlio Iglésias e Tony Carreira”, diz, contente.

Os técnicos e voluntários da Associação Mais Proximidade - que apoia idosos isolados na Baixa de Lisboa e na Mouraria desde 2010 – são quem distribui alguns alimentos a Nadine, que também recebe ajuda da Santa Casa da Misericórdia, e a levam ao médico quando não conseguem que esses cuidados de saúde sejam prestados em casa.

“Na segunda-feira tenho radiografia e exames e elas vão comigo. Chamam a ambulância e vamos”, conta a idosa, numa conversa marcada pela sua boa disposição e apurado sentido de humor.

“Com isto da epidemia piorou tudo. Vêm dar-me banho e tudo”, acrescenta.

Dois andares abaixo, encontra-se Délia Vigário, de 86 anos. Está com vergonha e vai de imediato tirar o avental, assim que se depara com a visita da ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, e de alguns membros da associação.

Conta que ainda vai à rua, mas sublinha que a ajuda do projeto é essencial para ir ao médico e para ter alguma companhia.

“É uma coisa que não tem explicação. São muito boas [técnicas] para a gente”, defende, acrescentando: “a maior tristeza que eu tenho é elas virem aqui e não poderem entrar”.

Délia Vigário faz também questão de dizer que foi cozinheira e que faz “bacalhau com natas sem natas”, mas sim com leite.

E como a pandemia de covid-19 não permite proximidade por agora, Ana Mendes Godinho deixou um repto no final da visita.

“Da próxima vez vimos cá comer um bacalhau com natas. Sem natas”, disse a ministra antes de deixar o prédio, a rir.

Em declarações à Lusa, a coordenadora e presidente da Associação Mais Proximidade, Mafalda Soure, explica que o projeto surgiu em 2010 “como um serviço de acompanhamento a pessoas idosas” residentes na Baixa e na Mouraria, “cujo principal problema” desde logo identificado prendia-se, sobretudo, “com a questão da solidão e do isolamento”.

“Começámos então a criar um conjunto de respostas de acompanhamento, visitas domiciliárias pela equipa técnica […], mas também com equipas de voluntários que visitam semanalmente as pessoas que acompanhamos”, explica.

Neste momento, a associação acompanha cerca de 120 pessoas, mas o recorde de idosos apoiados foi batido no ano passado, altura em que a pandemia de covid-19 agravou a vida de muitos. Foram apoiadas 139 pessoas, precisa Mafalda Soure.

“Também acompanhámos as pessoas ao médico, articulamos com todo a organização do sistema de saúde, para garantir que estas pessoas são bem acompanhadas do ponto de vista da saúde e conseguem, efetivamente, melhorar a sua qualidade de vida”, realça a responsável.

A frequência das visitas ao domicílio dos idosos depende das suas necessidades e nível de dependência, refere, acrescentando que “há uma grelha de categorização” que vai desde o verde ao vermelho.

MAIS NOTÍCIAS