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Portugueses controlam mal fatores de risco para doenças cardiovasculoares - estudo

LUSA
04-02-2020 00:22h

Mais de metade dos portugueses são obesos ou pré-obesos e 43% têm hipertensão arterial, conclui um estudo hoje divulgado que mostra que a população portuguesa controla mal os seus fatores de risco para doenças cérebro e cardiovasculares.

Os autores do estudo, da responsabilidade do Instituto Ricardo Jorge (INSA), indicam que 68% da população apresenta dois ou mais fatores de risco para doenças cardiovasculares e 22% quatro ou mais.

Os fatores de risco mais relevantes são a diabetes mellitus, colesterol elevado, hipertensão arterial, pré-obesidade/obesidade e tabagismo.

Em declarações à agência Lusa, Mafalda Bourbon, coordenadora do estudo, disse que os dados recolhidos surpreenderam, sobretudo porque “este trabalho analisou o conjunto de fatores de risco para um mesmo indivíduo” e não os fatores de forma isolada.

“Não tínhamos dados para pensar qual seria o valor que íamos obter. Quando percebemos que quase 70% têm dois ou mais fatores de risco, é preocupante”, afirmou Mafalda Bourbon, sublinhando que “há pessoas muito jovens que já iniciam a vida adulta com fatores de risco”.

Os investigadores defendem que os dados recolhidos mostram a necessidade de as autoridades de saúde “desenvolverem estratégias para rastrear a população em geral quanto aos fatores de risco para as doenças cardiovasculares e promovam medidas de estilo de vida adequadas e literacia em saúde”.

O estudo, que avaliou uma amostra de 1.688 pessoas através de exame físico, análises clínicas e um questionário, indica ainda que, “não obstante o decréscimo verificado nos últimos anos, as doenças cérebro-cardiovasculares continuam a ser a principal causa de morte em Portugal e a esperança de vida saudável aos 65 anos de idade é inferior à média europeia”.

“Não obstante o decréscimo verificado nos últimos anos, as doenças cérebro-cardiovasculares continuam a ser a principal causa de morte em Portugal e a esperança de vida saudável aos 65 anos de idade é inferior à média europeia” sublinham os investigadores.

Defendem uma “maior pressão no cumprimento dos objetivos definidos no Plano Nacional de Saúde”, sublinhando que a prevenção das doenças cardiovasculares continua a ser “um grande desafio”.

De acordo com os dados hoje divulgados, o estudo estimou prevalências de diversos determinantes de saúde, nomeadamente a dieta inadequada (71,3%), pré-obesidade/ obesidade (62,1%), hipertensão arterial (43,1%), hábitos tabágicos (25,4%) e nível baixo de atividade física (29,2%).

Os investigadores salientam também “o elevado grau de desconhecimento dos indivíduos em relação à sua situação clínica e à medicação prescrita”, sublinhado que estes dados reforçam “a necessidade de melhorar a literacia em saúde”.

“Havia diabéticos que estavam a tomar antidiabéticos orais e que nem sabiam que tinham diabetes”, contou a coordenadora do estudo, frisando: “Há pessoas que não tem conhecimento de todas as patologias que têm”.

O trabalho de campo para este estudo decorreu entre 2012 e 2014 e a análise dos dados recolhidos entre 2015 e 2017.

Questionada sobre se algumas das medidas levadas a cabo pelo Governo, sobretudo o aumento das taxas sobre as bebidas açucaradas, o álcool e os produtos de tabaco, e os programas de alimentação saudável e da promoção da atividade física, Mafalda Bourbon disse que é preciso repetir o mesmo estudo para avaliar esse impacto.

“Aliás, era uma ideia que tínhamos desde o início, fazer o seguimento destas pessoas e perceber a evolução nestes fatores de risco”, afirmou, destacando a necessidade de financiamento para dar continuidade ao trabalho.

A investigadora do INSA reconhece que os fatores de risco apontados “já eram todos conhecidos”, mas diz que “é preciso insistir para que as pessoas tomem consciência de que cada um pode fazer a diferença”.

“O que acho que é importante falar cada vez mais nestas percentagens para as pessoas terem consciência de que podem mudar estes valores. A maior parte destes fatores de risco são modificáveis e a população tem de tomar consciência que a sua saúde dela depende. Não é depois de ter a doença instalada que vai ao médico e toma um medicamento”, defende a responsável, acrescentando: "Tenho a certeza de que a pessoa sabe o que é uma dieta saudável ou um estilo de vida saudável, mas é difícil instituir. É preciso vontade (...). A pessoa tem de ter consciência de que depende de si atuar e mudar o estilo de vida”.

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