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Covid-19: Diretor do Africa CDC alerta contra guerra de vacinas

LUSA
25-03-2021 12:44h

O diretor do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana alertou hoje contra uma “guerra de vacinas” entre os países, numa altura em que atrasos no envio de vacinas para o continente suscitam receios renovados.

John Nkengasong, que falava na conferência de imprensa semanal do África CDC, em formato digital, a partir da sede da União Africana (UA) em Adis Abeba, Etiópia, manifestou-se “totalmente impotente” quanto ao impacto que irá provocar no combate à covid-19 em África a decisão do Instituto Serum da Índia suspender o envio para o continente de grandes quantidades da vacina da AstraZeneca, a fim de satisfazer a crescente procura interna.

“Sem o acesso às vacinas, o desafio será cada vez maior. Vamos perder vidas”, afirmou.

Sublinhando que a “batalha tem de ser coletiva”, Nkengasong disse ainda que mantém a esperança no “poder do humanismo”.

“Não há absolutamente nenhuma necessidade, absolutamente nenhuma necessidade que nós, enquanto humanidade, entremos numa guerra de vacinas para combater esta pandemia. Ficamos todos a perder”, afirmou ainda o diretor do África CDC.

O Instituto Serum da Índia produz as vacinas AstraZeneca que estão a ser enviadas para África através da iniciativa internacional Covax, que garante o acesso às vacinas a países de baixo e médio rendimento. Pelo menos 28 dos 55 Estados-membros da UA receberam até agora mais de 16 milhões de doses através da Covax.

As remessas de vacinas através da Covax continuam a chegar a diferentes países africanos. O Sudão do Sul, por exemplo, receberá hoje mais de 100.000 doses.

A Covax tem, no entanto, enfrentado atrasos relacionados com a limitação do fornecimento em termos globais, assim como com questões logísticas. É por isso que alguns países como a África do Sul, a nação africana mais duramente atingida, estão também a procurar vacinas anti-Covid-19 através de acordos bilaterais e através do programa de compras por grosso da União Africana.

A África, com cerca de 1,3 mil milhões de habitantes, espera vacinar 60% da sua população até ao final de 2022, por forma a alcançar a imunidade de grupo.

Esse objetivo não será, quase certamente, atingido sem a utilização generalizada da vacina AstraZeneca, que é vista como central na estratégia global para erradicar a pandemia do coronavírus. A vacina do fabricante anglo-sueco de medicamentos é mais barata e mais fácil de armazenar do que outras e constituirá a quase totalidade das doses enviadas no primeiro semestre do ano através da COVAX.

Especialistas alertaram que até que as taxas de vacinação sejam elevadas em todo o mundo, o vírus continuará a ser uma ameaça global.

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