SAÚDE QUE SE VÊ

Equipas de saúde vão tratar consumidores de droga com hepatites nas organizações de apoio

LUSA
28-07-2020 13:29h

Equipas de saúde vão passar a deslocar-se a organizações que apoiam consumidores de droga para tratamento das hepatites virais, avançou hoje à Lusa a diretora do Programa Nacional para as Hepatites Virais, Isabel Aldir.

“São pessoas que pelas suas circunstâncias de vida e de saúde têm maior dificuldade em irem aos cuidados formais de saúde” e a ideia é os serviços de saúde irem ao encontro delas, disse Isabel Aldir em entrevista à agência Lusa, no Dia Mundial das Hepatites.

Apesar de ano ter sido um “pouco atípico” devido à pandemia de covid-19, os serviços continuaram a trabalhar “e a grande maioria das pessoas, nomeadamente com hepatites virais crónicas, já estão diagnosticadas, já fizeram o tratamento ou já estão identificadas para o fazer”, afirmou Isabel Aldir.

“Mas há algumas franjas que são mais difíceis e que merecem uma atenção e a procura de soluções muito individualizadas”, como a população reclusa, que já está a ser tratada nas prisões por equipas de saúde, e os utilizadores de drogas, uma população “muito afetada por hepatites virais, para quem faltava encontrar uma solução.

A ideia é a Direção-Geral da Saúde, em articulação com o Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), com organizações de base comunitária que trabalham na redução do risco e minimização de danos, com as estruturas hospitalares e os cuidados de saúde primários, levar os cuidados de saúde a esta população.

“Isto passará por as equipas de saúde se deslocarem, por exemplo, a algumas destas organizações de base comunitária e o tratamento dessas pessoas decorrer nesse âmbito”, explicou a infeciologista.

Isabel Aldir explicou que a prioridade de um consumidor ativo não é a hepatite, mas arranjar forma de consumir e, como tal, “não vai ter nunca disponibilidade para ir a uma consulta no hospital, para se sentar numa sala de espera a aguardar pela sua vez, para fazer as análises”.

“Portanto, nós temos de o ajudar, irmos junto dele, ao sítio onde vai, por exemplo, fazer a troca de seringas, onde vai fazer a metadona” e dizer-lhe que vão ali fazer a consulta, a ecografia, o tratamento.

“Se fizermos isso aquela pessoa em concreto beneficia porque vai ver a sua hepatite tratada e a sociedade também beneficia porque a pessoa já não vai transmitir a doença a terceiros”, salientou.

Esta iniciativa também vai permitir identificar pessoas que ainda não estão diagnosticadas porque, embora a grande maioria dos utentes que estão nestes cuidados já tenham sido testadas, ao verem que o modelo está diferente chamam mais pessoas com este tipo de problemas de saúde.

Portanto, vincou, “vamos de certeza conseguir diagnosticar mais pessoas” e conseguir “tratar mais” com estas “estratégias de microeliminação”, delineadas à medida de uma população específica e que “são absolutamente fundamentais para controlar as hepatites virais crónicas, nomeadamente a hepatite c”.

Questionada se Portugal vai conseguir cumprir a meta estabelecida pela Organização Mundial da Saúde de eliminar estas infeções como uma ameaça à saúde pública até 2030, Isabel Aldir afirmou que o país tem todas as condições para isso.

“Temos algo que é muito importante e que sem ele não o conseguimos fazer que é um compromisso político do país para com estas situações”, além de haver equipas de saúde “muito bem orientadas e com acesso ao que há de melhor” e organizações de base comunitária “muito boas”.

“Acho que temos aqui uma conjuntura que nos coloca quase com a obrigação de assumirmos que vamos conseguir fazê-lo antes de 2030, assim não sejamos nós surpreendidos com mais situações como este início do ano nos trouxe”, salientou, referindo-se à pandemia.

Dados do Infarmed relativos a 01 de julho indicam que, desde 2015, foram registados 27.239 tratamentos para a hepatite C e iniciados 26.006, sendo a taxa de cura de 97%, com 15.909 doentes curados e apenas 572 não curados.

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