A trabalhar há 25 anos no Hospital Fernando da Fonseca, a enfermeira-chefe, Maria Luísa Xímenez, gere actualmente o serviço 1 e 2 de cirurgia geral e é uma das vozes mais respeitadas pela classe de enfermagem, mas também uma das mais críticas “ao sistema”.
Em entrevista ao Canal S+, mostra-se preocupada com a forma como a pandemia da COVID-19 está a ser gerida dentro e fora dos hospitais. “Se há lares que fecham por causa da falta de enfermeiros, nos hospitais as camas estão a meio metro umas das outras”, garante. Para a profissional, que acusa ainda os responsáveis políticos de não visitarem “o terreno” este cenário propicia um elevado número de novas infeções, como sucedeu esta semana no Hospital de São José, em Lisboa.
“Se eu estou na rua sou quase presa porque não estou a dois metros de distância, mas se caio na cama de um hospital já posso?”, questiona-se Maria Luísa Xímenez.
Maria Luísa Xímenez já não tem dúvidas que o “milagre português” muito publicitado, no início da pandemia da COVID-19, se deveu unicamente aos portugueses que se decidiram “isolar em casa”. Para a enfermeira-chefe a “comunicação da senhora Directora-geral da Saúde tem sido de uma profunda incoerência, com exemplos terríveis de contaminação”. Mas Graça Freitas não está sozinha no alvo das críticas. Para Maria Luísa Ximenez deviam ser feitos cursos e campanhas de educação dirigidos aos portugueses para todos saberem como devem usar as máscaras. E o exemplo devia vir “de cima”, nomeadamente das entidades máximas do país, como é o caso do Presidente da República e do Primeiro-Ministro.
A enfermeira-chefe do Hospital Fernando da Fonseca lembra ainda que os aplausos dos portugueses têm sido muito importantes para motivar os profissionais de saúde, mas não chega. “O salário emocional é muito importante, mas os enfermeiros estão estourados e vem aí o Outono…” relembra visivelmente preocupada.
“Gostava de saber o que está a ser feito para nos prepararmos?”, questiona Maria Luísa Xímenez, garantindo que o reforço de enfermeiros com contractos a 4 meses não está a atrair ninguém, o que na opinião da enfermeira-chefe era “absolutamente previsível”, atesta.
Esta semana, a Ordem dos Enfermeiros emitiu um comunicado em que lembra ao governo que existem 2800 enfermeiros especializados em saúde pública que podiam e deviam ajudar no combate à pandemia, sobretudo na região de Lisboa e Vale do Tejo, onde a situação epidemiológica se encontra longe do resultado desejável.