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Covid-19: EUA estão "fora de jogo" no combate mundial à pandemia - especialista

LUSA
30-04-2020 21:25h

Os Estados Unidos da América “estão fora de jogo” ao nível da resposta mundial para combater a pandemia, porque se encontram “ausentes da primeira linha” de atuação contra a doença, considerou hoje o especialista em relações internacionais Carlos Gaspar.

“Os Estados Unidos estão fora de jogo, não deram nenhuma contribuição para a resposta global” contra a pandemia da doença provocada pelo novo coronavírus, disse o professor do Departamento de Estudos Políticos da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa.

O politólogo ironizou que os Estados Unidos “estão de férias”, uma vez que estão “ausentes da primeira linha da resposta a uma crise internacional”, sublinhado que “é a primeira vez que isso acontece desde 1945”.

O especialista falava durante a conferência 'online' A Pandemia: que impacto na Ordem Global?", promovida pelo Instituto da Defesa Nacional e pelo Centro de Estudos Internacionais.

Na opinião de Carlos Gaspar, a pandemia “vai abrir caminho para uma fragmentação da ordem internacional”, que se traduzirá no “regresso da anarquia” na geopolítica mundial, com uma “competição triangular” entre os Estados Unidos, a China e a Rússia.

A pandemia também “tornou, aparentemente, irreversível a estratégia de desacoplamento” entre Washington e Pequim, que estava a “meio caminho, forte na dimensão tecnológica, hesitante no domínio económico”.

O especialista em relações internacionais acrescentou que “agora há um consenso fortíssimo nos EUA sobre a necessidade de conter a China”.

Carlos Gaspar destacou ainda que “os erros de cálculo são a nota dominante entre Pequim, Bruxelas e Washington” na resolução da crise económica e financeira decorrentes da covid-19.

Em linha com as opiniões do politólogo, a investigadora de política externa Raquel Vaz Pinto considerou que “o regresso da anarquia está aqui e está para durar”, já que “o espaço que foi deixado” pelos EUA na liderança das respostas mundiais às crises “também não foi ocupado” por Pequim.

“A China não tem, de todo, as capacidades que lhe permitam construir, estabelecer e organizar essa outra alternativa no que toca às questões do equilíbrio de poder”, explicitou.

Washington sob a liderança de Donald Trump “é como se uma daquelas máquinas que vendem alimentos estivesse temporariamente fora de serviço. Está lá tudo, a estrutura e a mecânica, mas não funciona”, ironizou a também professora do Departamento de Estudos Políticos da FCSH.

Miguel Monjardino, professor de Geopolítica da Universidade Católica Portuguesa, considerou que, nos próximos tempos, “haverá mais desordem” internacional porque ainda não é claro “onde está a energia política que estabilizará o sistema”.

O especialista advogou que “não será indiferente” para o restabelecimento da ordem mundial o país ou conjunto de nações responsáveis pela descoberta da vacina.

O professor universitário também considerou que a pandemia prejudicou os países que “centraram toda a sua ação no petróleo e nos recursos fósseis”, referindo, especificamente, a Rússia e a Arábia Saudita.

Em relação a Portugal, Carlos Gaspar considerou que, apesar de o país estar “numa posição particularmente difícil”, na “comparação limitada europeia”, Portugal é um dos “poucos países, com a Alemanha, Finlândia e Noruega, que mostrou ser um Estado forte”, por oposição a França, Espanha, Itália ou o Reino Unido, cujo impacto da pandemia no número de mortos e infetados foi bastante superior.

Já Miguel Monjardino vincou que o resultado das eleições presidenciais nos Estados Unidos, em 03 de novembro, terá “imensas consequências” para Portugal.

“Se se confirmar um cenário em que o Presidente dos EUA continua a ser Donald Trump, acho que teremos de fazer muito mais no nosso espaço geopolítico”, considerou, acrescentando que este cenário favorece “ainda mais a desordem no sistema internacional”.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 227 mil mortos e infetou quase 3,2 milhões de pessoas em 193 países e territórios.

Cerca de 908 mil doentes foram considerados curados.

Em Portugal, morreram 989 pessoas das 25.045 confirmadas como infetadas, e há 1.519 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.

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