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“Cerca de 20 médicos e enfermeiros portugueses vieram para Angola sem data de regresso”

CANAL S+ / VD
28-04-2020 19:24h

A trabalhar em Angola há um bom par de anos, Miguel Osório de Castro não podia estar mais satisfeito com a disponibilidade manifestada por “cerca de 20 médicos e enfermeiros portugueses que vieram para Angola sem data de regresso” revela o diretor clínico da International SOS, a partir de Luanda, em entrevista ao Canal S+.

O médico português garante que os profissionais de saúde estão confiantes na resposta a dar à ameaça sanitária provocada pela pandemia da COVID-19. Porém, é inegável “uma certa apreensão” que resulta numa "calma aparente" na comunidade portuguesa residente em Luanda.

Miguel Osório de Castro lidera uma equipa diferenciada de profissionais de saúde que, a partir de Luanda, presta auxílio e cuidados médicos a diversas empresas multinacionais a operarem no país, como é o caso da indústria petrolífera e do gás natural.

Com 11 mil profissionais de saúde a trabalharem em 90 países, a International SOS foi criada há 39 anos por Arnaud Vaissié e Pascal Rey-Herme para dar resposta às pequenas e às grandes emergências, seja qual for o cenário ou a latitude. Só para se ter uma ideia, a organização mundial esteve presente após o ataque terrorista às torres gémeas a 11 de Setembro, em Nova Iorque, bem como no apoio à crise suscitada pela entrada em erupção do vulcão Eyjafjallajokull, na Islândia, em Abril de 2010, que deixou os céus da Europa cobertos por um espesso manto negro, culminando na paralisação generalizada do transporte aéreo europeu.

Dois terços dos clientes da International SOS são empresas Fortune Global 500 e todos os anos a empresa recebe 5 milhões de chamadas de assistência. A maior parte dos pedidos surgem de empresas com operações em países e locais remotos e que dispõem de equipamentos e infraestruturas médicas incipientes.

Desde que a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou o Estado de Emergência Internacional de Saúde Pública por causa do surto da COVID-19 em Wuhan, na China que Miguel Osório de Castro começou a aplicar com a sua equipa todas as medidas e planos de contingência possíveis para minimizar o impacto nas clínicas e nas empresas a quem prestam serviços médicos em Angola.

O médico português esclarece ainda que a International SOS em Angola tem a capacidade de expatriar doentes, com recurso a ambulâncias aéreas, para centros de referência médica, como é o caso de Joanesburgo, na África do Sul. “Estamos a cerca de três horas e meia de avião por isso é o destino mais utilizado, mas temos capacidade para expatriar para outros locais na Europa”, conclui. Desde o início da pandemia da COVID-19, com o espaço aéreo angolano fechado aos voos comerciais, já o fizeram quatro vezes, sobretudo com casos oriundos de plataformas petrolíferas em alto mar.

Miguel Osório de Castro mostra-se apenas preocupado com a existência de poucos ventiladores no país, como sucede de resto em muitos outros. “Angola dispõe de cerca de 200 ventiladores, a grande maioria localizados em Luanda, para 25 milhões de pessoas”, alerta o clínico.

O último balanço oficial das autoridades de saúde em Angola dá conta de 27 casos confirmados de COVID-19, 2 mortos e 6 doentes recuperados, o que levou o Governo a renovar, há dois dias, o Estado de Emergência Nacional. Segundo Miguel Osório de Castro, Angola foi rápida a tomar medidas de proteção da população, seja ao controlar as entradas no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, seja a medir a temperatura à entrada dos estabelecimentos comerciais ou na aplicação de medidas de confinamento dos cidadãos. Medidas às quais se soma agora mais uma, decretada pelo Palácio da Cidade Alta que passa pela recomendação de uso generalizado de máscara por parte da população sempre que se deslocar à rua.

 

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