Cerca de 87 milhões de crianças em África receberam refeições escolares em 2024, um aumento de 21 milhões face a 2022, comunicou hoje o Programa Alimentar Mundial (PAM), frisando haver Governos africanos a investir mais nestas medidas.
O relatório "Estado da Alimentação Escolar em todo o Mundo", um estudo bienal global, foi hoje divulgado pelo PAM, precisamente na semana anterior à segunda Cimeira Global da Coligação para as Refeições Escolares, que se realizará no Brasil, nos dias 18 e 19 de setembro, "onde os líderes se reunirão para avaliar os progressos e mobilizar novas ações", contextualizou a agência da ONU.
De acordo com o documento, o continente africano registou o aumento mais significativo do mundo, com o número de crianças que recebem refeições escolares a aumentar mais de 30%, passando de 66 milhões em 2022 para 87 milhões em 2024.
"O Chade, a Etiópia, o Ruanda e Madagáscar aumentaram o número de alunos que recebem refeições escolares em até seis vezes", frisou.
Em Moçambique, o PAM implementa o programa "Combate ao Absentismo e Redução das Barreiras à Educação", que fornece refeições saudáveis adquiridas localmente e promove o acesso à educação, especialmente para as raparigas, exemplificou.
"O programa (...) demonstra como o desenvolvimento das capacidades dos atores escolares e comunitários é fundamental para mudar as normas sociais e as atitudes em relação à igualdade", referiu.
De uma forma geral, os investimentos governamentais em refeições escolares na África Subsaariana aumentaram, sinalizando uma mudança significativa da dependência da ajuda externa para o reconhecimento das refeições escolares como um investimento público estratégico na educação, saúde e desenvolvimento nacional mais amplo das crianças, saudou o PAM.
Desta forma, em países como o Benim, o Botsuana, o Burquina Faso, o Essuatíni, o Lesoto, a Namíbia, o Ruanda e a Zâmbia, os programas de alimentação escolar são financiados principalmente através dos orçamentos nacionais.
Outros governos, como os da Etiópia e do Burundi, duplicaram e triplicaram as suas respetivas contribuições desde 2022, continuando a receber algum financiamento de fontes externas.
Para o PAM, além da educação e do bem-estar das crianças, os modelos sustentáveis de alimentação escolar, tais como os programas de alimentação escolar com produtos cultivados localmente, também têm benefícios de longo alcance para os pequenos agricultores, as economias agrícolas e a produção alimentar climaticamente inteligente.
No Benim, por exemplo, onde o Governo financia principalmente a alimentação escolar, a compra de alimentos locais para estes programas contribuiu com mais de 23 milhões de dólares (cerca de 19,6 milhões de euros) para a economia em 2024. As compras diretas aos pequenos agricultores aumentaram 800%, beneficiando mais de 23.000 pessoas.
No ano passado, na Serra Leoa, 40% dos alimentos para as refeições escolares vieram de pequenos agricultores — principalmente mulheres e jovens —, proporcionando uma dieta variada com arroz, leguminosas, batata-doce e vegetais.
"Uma refeição na escola é mais do que apenas dar comida a uma criança; é também um investimento na família, na comunidade e, em última análise, no futuro de um país", declarou o diretor regional do PAM para a África Oriental e Austral, Eric Perdison.
No entanto, apesar destes progressos assinalados, milhões de crianças, especialmente em países africanos de baixos rendimentos como a RDCongo, a Somália e o Sudão do Sul, ainda não têm acesso a refeições escolares devido ao baixo financiamento interno e ao cada vez menor financiamento de doadores externos.