Um projeto da Universidade de Évora contempla o desenvolvimento de planos individuais de cuidados (PIC), em que todos os profissionais se organizam em função do doente, para pessoas com covid-19 domiciliadas, que podem ser monitorizadas remotamente.
O PIC “é um conceito inovador” e “um projeto em que já estávamos a trabalhar”, inclusive com o Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE), mas focado nos doentes crónicos, disse hoje à agência Lusa Manuel José Lopes, docente da Escola Superior de Enfermagem São João de Deus da Universidade de Évora (UÉ).
A UÉ candidatou a iniciativa PIC 4 Covid-19 ao programa “RESEARCH 4 COVID-19” da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e, como o projeto foi selecionado, com um financiamento de 30 mil euros, parte do trabalho foi redirecionado.
“Agora, a urgência é começarmos a desenvolver estas dimensões para pessoas com covid-19 que estão em casa, que são aquelas que mais beneficiarão deste tipo de resposta”, destacou o também investigador do Polo de Évora do Centro de Investigação Integrada em Saúde (CHRC, em inglês, Comprehensive Health Research Centre)
O PIC é um instrumento que, “com recurso à informação clínica e à evidência, facilita o planeamento personalizado, integrado e garante a continuidade de cuidados, conferindo ao doente e cuidador decisões fundamentadas” sublinhou, num comunicado da academia.
O professor esclareceu à Lusa que, enquanto o doente está no hospital, “diversos profissionais coordenam-se entre si para lhe prestar cuidados”, mas, quando tem alta e volta a casa, “estes passam a ser prestados pelo próprio e pela sua família e esse planeamento tem que ser pensado desde o primeiro momento. O doente crónico tem de aprender a cuidar de si próprio”.
“Já patenteámos este conceito. O plano é centrado na própria pessoa, que muito tem a ganhar com um plano de cuidados validado pela ciência e disponível onde quer que estivesse, em casa, através de texto, num ‘smartphone’ ou ‘PC’, ou de um assistente de voz, e quando vai ao médico ou ao enfermeiro de família, sem discrepâncias no que cada um está a fazer”, indicou.
A equipa, ao candidatar este projeto baseado também na inteligência artificial ao programa da FCT focado no combate à pandemia da covid-19, introduziu-lhe uma nova “camada”.
“Dissemos que isto é útil na doença crónica, mas também é útil num tipo de doença aguda na qual cerca de 90% das pessoas, afinal, não estão internadas, estão em casa. E, se estão em casa, precisam de cuidar delas próprias”, realçou.
E, acrescentou Manuel Lopes, “lucrariam muito se, em vez de um sistema arcaico que é estar a telefonar-lhes todos os dias a perguntar como estão, tivessem um planeamento integrado e pudessem ser monitorizadas remotamente”.
O docente considerou que será possível “promover a literacia, o estado funcional, o autocuidado, a efetividade, a qualidade de vida e segurança da medicação e diminuir a utilização de serviços de saúde, dos internamentos hospitalares, da mortalidade dos doentes com covid-19 domiciliados”.
O projeto, que vai aplicar os 30 mil euros da FCT para criar um mecanismo informático para incorporar informação das bulas dos medicamentos ou das normas de orientações clínicas no PIC, prevê realizar “experiências” em doentes covid-19 domiciliados.
Segundo Manuel Lopes, a ideia é que, através de ‘bluetooth’ ou outra tecnologia, quando o doente medir a temperatura corporal ou a frequência cardíaca esses dados sejam carregados no sistema, a que médicos ou enfermeiros têm acesso, podendo também ajustar medicações e fornecer outras indicações: “O plano vai-se adequado à realidade da pessoa. Mas a construção de tudo isto é faseado, daqui por três meses teremos algumas funcionalidades, daqui por meio ano outras e assim por diante”.
A iniciativa é liderada pela UÉ, mas tem também como parceiros, além do HESE, o Centro Hospitalar Lisboa Norte, a DECSIS - Sistemas de Informação, a Escola Nacional de Saúde Pública e Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa e o CHRC.