A COVID-19 está a dominar todas as atenções em matéria de saúde, mas apesar disso nenhuma das doenças que já existiam desapareceu, e os dados continuam a dizer que é o AVC a que mais mata em Portugal todos os anos. O problema é que o novo coronavírus está a afastar as pessoas dos hospitais, e com isso há vários doentes cardíacos a escapar ao controlo médico. O neurologista João Sargento Freitas deixa o alerta e faz importantes recomendações.
O título desta notícia não reflete uma desvalorização dos perigos que o novo coronavírus acarreta para a saúde pública, antes um alerta para a tendência que os portugueses têm revelado de evitar a todo o custo o recurso aos hospitais. Se por princípio a ideia poderá fazer sentido num momento de pandemia, a verdade é que há doentes que não devem adiar o acompanhamento da sua situação clínica, sob pena de agravar a sua condição de saúde.
Se há doença à qual esta máxima se aplica é o acidente vascular cerebral, ainda hoje a que mais mortes causa em Portugal. O AVC é uma doença emergente e que pede ação no momento, pelo que não há lugar a tempo de espera no serviço de urgência.
De acordo com o neurologista e membro da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral João Sargento Freitas, mesmo em tempo de COVID, é fundamental não esquecer a orientação para o AVC e para todas as outras doenças, que precisam de continuar a ser tratadas. Estamos num momento que aconselha, de facto, a que os cuidados não urgentes possam ser adiados para evitar uma sobrecarga ainda maior sobre as unidades e os serviços de saúde. Contudo, aqueles que precisam não devem deixar de recorrer aos serviços, sob pena de haver uma fatura elevada a ser paga daqui por algumas semanas.
No entanto, a realidade atual é bastante diferente, como atesta um estudo recente da Escola Nacional de Saúde Pública. Durante o mês de março, as idas às urgências caíram 45 por cento.
Não existe neste momento nenhum motivo de natureza biológica que leve a comunidade médica a acreditar numa grande redução da prevalência do AVC em Portugal. Por isso, o receio destes profissionais é que não estejam a ser tratados muitos dos doentes que precisam. João Sargento Freitas deixa duas recomendações: não descure a prevenção primária e tenha atenção aos sinais de alarme na fase aguda.