O presidente da Câmara da Ribeira Grande criticou hoje a "falta de informação" da Autoridade de Saúde dos Açores a propósito da deslocação de dois ex-reclusos ao concelho antes de lhes ter sido detetada a doença covid-19.
Segundo uma nota de imprensa, Alexandre Gaudêncio lamentou a "constante e sucessiva" falta de informação por parte da Autoridade de Saúde Regional e da Proteção Civil açoriana.
O comunicado salienta que a "indignação do autarca da Ribeira Grande não é de agora", mas "ganhou novos contornos" com o caso dos dois ex-reclusos que estavam em confinamento obrigatório num hotel em Ponta Delgada e passaram a cerca sanitária (com autorização da delegação de saúde) para se deslocarem a Rabo de Peixe, no concelho da Ribeira Grande, antes de terem testado positivo ao novo coronavírus
"[É] absolutamente lamentável que a autarquia esteja empenhada em prestar apoio social a quem se encontra em situação vulnerável ou a adotar medidas de apoio à economia local e ver-se confrontada com falhas que não são da sua responsabilidade, mas que podem colocar em causa todo o trabalho desenvolvido", assinalou Gaudêncio, na mesma nota de imprensa.
O presidente da câmara da ilha de São Miguel pediu à Autoridade de Saúde para partilhar "informação relevante" com a autarquia e salientou que "todos os dias" recebe pedidos de informação por parte dos munícipes acerca dos casos de covid-19 no concelho.
"Só sabemos os números que a Autoridade de Saúde Regional debita nas conferências de imprensa diárias", refere.
Alexandre Gaudêncio classificou o comportamento da Autoridade de Saúde como "desrespeitoso" para aqueles que trabalham diariamente para que "nada falte à população" no âmbito do combate à pandemia.
O presidente da Câmara da Ribeira Grande exigiu também "mais sensibilidade e preocupação" na comunicação entre a entidade de saúde e a autarquia.
Os dois reclusos, que estavam no Estabelecimento Prisional de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, foram libertados ao abrigo do perdão de penas, no dia 15 de abril, e transportados para a ilha de São Miguel, onde residiam.
À chegada, foram encaminhados para uma unidade hoteleira em Ponta Delgada, onde ficaram em confinamento obrigatório, mas terão tido autorização para visitar a família em Rabo de Peixe, na Ribeira Grande, apesar de os dois concelhos terem cerco sanitário.
No sábado, foram testados por infeção pelo novo coronavírus, no âmbito de um rastreio feito a todos os ex-reclusos libertados recentemente e tiveram resultado positivo.
Confrontado pelos jornalistas, no ponto de situação diário sobre a evolução do surto de covid-19 na região, o responsável da Autoridade de Saúde Regional dos Açores, Tiago Lopes, disse que ocorreu um "erro de comunicação" entre as delegações de saúde e a Polícia de Segurança Pública, mas que a situação "já está a ser acompanhada e irá ser devidamente acautelada no futuro".
Tiago Lopes acusou também a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais de não ter permitido que os reclusos do arquipélago fossem testados à covid-19 antes de serem libertados
A Lusa contactou a Autoridade de Saúde, aguardando uma resposta às críticas do autarca da Ribeira Grande.
Desde o início do surto foram confirmados 131 casos de covid-19 nos Açores, 109 dos quais ativos, tendo ocorrido 15 recuperações (seis na Terceira, quatro em São Miguel, quatro em São Jorge e uma no Pico) e sete mortes (em São Miguel).
A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 172.500 mortos e infetou mais de 2,5 milhões de pessoas em 193 países e territórios.