A Amnistia Internacional (AI) pediu hoje ao Governo da Tunísia para libertar "imediata e incondicionalmente" dois ‘bloggers' presos após as críticas à administração do país, no âmbito da pandemia de covid-19.
A organização refere, em comunicado, que os detidos, Anis Mabrouki e Hajer Awadi, enfrentam acusações de injúria, de distúrbios da lei e da ordem, e de difamação, pela partilha de vídeos em redes sociais e pelo protesto contra a escassez de suprimentos básicos de comida e a falta de assistência social para pessoas com dificuldades económicas.
Apesar de a Tunísia ter níveis relativamente altos de liberdade política na região, a AI sublinha ainda que, nos últimos anos, houve um aumento inquietante no número de julgamentos contra ‘bloggers', jornalistas e ativistas defensores da liberdade de expressão no país, cujo primeiro-ministro é Elyes Fakhfakh.
Segundo a Amnistia Internacional, muitos desses casosdeveram-se às leis "arcaicas" usadas ao longo da ditadura de Zine El Abidine Ben Ali, entre 1987 e 2011, que devem ser revistas com urgência.
"A última coisa que deve acontecer às autoridades, durante uma pandemia, é prender ou julgar pessoas que criticam a resposta do Estado à pandemia de covid-19. O fluxo livre de informação e a confiança do público são particularmente importantes neste processo", denunciou a diretora regional da AI para o Médio Oriente e o Norte da África, Amna Guellali.
Segundo a AI, o ‘blogger' Anis Mabrouki está em prisão preventiva desde o dia 13, após ter divulgado um vídeo na sua página na rede social Facebook, em que mostrava uma multidão de pessoas em frente à Câmara Municipal de Tebourba, localidade a 30 quilómetros a oeste da capital, Tunes, para exigir indemnizações prometidas pelo Governo.
Mabrouki foi preso, depois de o presidente da câmara ter apresentado queixa, estando ojulgamento agendado para dia 30, após ter sido rejeitado um pedido de libertação.
Já a ativista e ‘blogger' Hajer Awadi enfrenta, juntamente com o tio, uma possível sentença de um ano de prisão, após a publicado de um vídeo a denunciar a corrupção do Governo e a má distribuição de alimentos, além de acusar a polícia local de a agredir e de a ameaçar.
A AI reiterou ainda que a Constituição de 2014 garante o direito à liberdade de expressão e insistiu na necessidade de se reduzir o número de detidos em prisão preventiva pela expressão da sua opinião, até para se reduzir o risco de contágio do novo coronavírus em prisões superlotadas.
A pandemia de covid-19 já causou a morte a 37 pessoas na Tunísia, entre um universo de 884 casos confirmados de infeção.
A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 170 mil mortos e infetou quase 2,5 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Mais de 558 mil doentes foram considerados curados.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.