A responsável pelo Programa Nacional Para o Controlo do Tabagismo defende que devem ser feitos estudos por entidades independentes sobre os novos produtos do tabaco e reforçada a fiscalização das campanhas da indústria, sobretudo junto dos jovens.
“Nós ainda não temos informação científica validada por entidades independentes que nos permita responder com rigor sobre se são mais ou menos nocivos [do que o tabaco]. Uma coisa é certa: são nocivos para a saúde, mas o grau de nocividade não é totalmente conhecido pois eles ainda estão no mercado há pouco tempo, sobretudo o tabaco aquecido”, disse Emília Nunes à Lusa.
Na data em que se assinala o Dia do Não Fumador, a responsável pelo Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo (PNPCT) defende que o ideal é “o risco zero” e recorda: “Relativamente aos cigarros eletrónicos, estão agora a aparecer mortes, sobretudo quando são consumidos com determinados aromas ou misturas com derivados de canábis”.
“No fundo estamos a passar para um produto que também não sabemos se afinal de contas vai ou não vai mesmo diminuir o risco. Não está demonstrado e não sabemos a médio prazo os ganhos ou não”, afirmou.
Emília Nunes explica que a legislação “proíbe totalmente as campanhas feitas pela indústria” e diz que as autoridades precisam de maior capacidade da fiscalização.
“A fiscalização está a cargo de várias entidades, da Direção-Geral do Consumidor, da Alta Autoridade para a Comunicação Social, da Autoridade de Segurança das Atividades Económicas, portanto, precisaríamos também de ter mais capacidade de intervir nessa nossa dimensão”, afirmou.
O relatório de 2019 do PNPCT, a que a Lusa teve acesso, reconhece que os jovens têm menos noção do grau de dependência, pois julgam que é fácil deixar e isso torna-os mais vulneráveis a experimentar.
Os dados recolhidos no âmbito do estudo “Comportamentos aditivos aos 18 anos: inquérito aos jovens participantes no Dia da Defesa Nacional”, em 2018 - citados no relatório do PNPCT, indicam que 60,1% dos jovens de ambos os sexos disseram já ter consumido tabaco; 48,8% nos últimos 12 meses e 38,3% nos últimos 30 dias.
O relatório do PNPCT diz também que “continuar a fumar ao longo da vida adulta, compromete a saúde e longevidade”.
“Se não se conseguir impedir que os jovens comecem a fumar, as próximas gerações continuarão a suportar um pesado fardo, não só em termos de doença, incapacidade e mortalidade prematura, mas também em gastos em tratamentos e serviços de saúde”, sublinha o relatório.
O documento alerta também para a necessidade de uma comunidade científica “ativa e isenta de conflitos de interesses”, que investigue e produza “a base de comprovação e evidência necessárias à tomada de decisão política, legislativa e técnica, em favor da promoção da saúde pública”.
A propósito dos estudos que indicam que as campanhas da industria estão a direcionar-se cada vez mais para os jovens, o relatório sugere que se avance com o protocolo entre a Direção-Geral da Saúde e a Direção-Geral de Educação para a prevenção do tabagismo em meio escolar e reforçar a colaboração com o Instituto Português da Juventude e com as Sociedades Científicas e Organizações Não Governamentais (ONG) nesta área.
Questionada sobre se os novos produtos de tabaco poderiam ser uma boa estratégia para deixar de fumar, Emília Nunes responde: “Na verdade, até podem ter um efeito perverso que é diminuir a perceção de risco e muitas pessoas fumadoras que poderiam querer deixar de fumar passam para estes produtos na convicção de que é igual a deixar de fumar”.
“Isto é uma ideia que às vezes a indústria também transmitiu: que fumar aquele produto tem menos risco e, portanto, é equivalente a deixar de fumar, quando na verdade não há confirmação de que assim seja”, insistiu.
“Há aqui um ponto comum: todos eles, tendo nicotina, provocam dependência e, portanto, vão colocar os consumidores numa situação de perda de liberdade relativamente ao consumo”, acrescentou a responsável, sublinhando: “A ideia que queremos passar é que as pessoas devem mesmo deixar de fumar”.
Por outro lado, acrescentou, também importa que os próprios pais sensibilizem as crianças desde cedo para a perigosidade destes produtos, não dando o mau exemplo ao fumar junto deles”.