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Covid-19: Importadores informais moçambicanos dizem que sobrevivência de milhares está em risco

LUSA
21-04-2020 09:25h

A Associação Mukhero, que congrega pequenos importadores informais de Moçambique, alertou hoje que a sobrevivência de milhares de famílias que vivem da pequena venda de produtos alimentares "está em risco" devido à covid-19.

Hã duas realidades distintas: as grandes superfícies funcionam sem sobressaltos, mas o comércio informal, em estabelecimentos como bancas de rua, passa por dificuldades, porque os pequenos importadores estão a enfrentar obstáculos para comprar produtos na África do Sul, devido ao aumento de preços, afirmou à Lusa o presidente da Associação Mukhero, Sudekar Novela.

Aquele país, a principal economia da África Austral, está em estado de emergência, com confinamento geral, no âmbito do combate à covid-19.

"Os produtos alimentares estão cada vez mais caros na África do Sul, porque os produtores e fornecedores reduziram a sua atividade, devido às restrições impostas pela luta contra a covid-19", declarou Sudekar Novela.

Os pequenos importadores, cuja atividade é essencial para as famílias sem condições de comprar alimentação em supermercados, colocam os produtos com um preço mais alto ao consumidor final, referiu Novela.

"Já temos casos em que os produtos ficam muito tempo sem compradores, porque os preços estão elevados", afirmou.

A subida de preço dos bens alimentares está também a tornar inviável o negócio de milhares de intermediários que vendem em vários lugares das cidades moçambicanas, incluindo os vendedores informais.

"Os intermediários já tinham uma margem de lucro muito reduzida, porque estão muito abaixo da cadeia. Com a subida dos preços, a vida deles está muito dura", referiu o presidente da Associação Mukhero.

Milhares de famílias que vivem do comércio informal arriscam-se a ficar sem o seu ganha-pão, porque os produtos que vendem são importados da África do Sul e têm chegado a Moçambique mais caros, acrescentou.

Sudekar Novela sublinhou que o drama no pequeno comércio é agravado pela extorsão praticada pelas polícias da África do Sul e de Moçambique e pelas constantes rusgas dos serviços de inspeção.

A redução de atividade na restauração, hotelaria e no entretenimento e a proibição de casamentos, batizados, festas de aniversários também está a afetar gravemente os importadores de bens alimentares.

Os importadores informais não têm licença de importação e compram os seus produtos em frações para transitarem a fronteira com isenção de direitos aduaneiros e operam livres de custos acarretados pelos grandes importadores.

Essa facilidade permite que vendam os seus produtos a preços relativamente baixos, sendo uma alternativa para as famílias mais desfavorecidas e sem recursos para adquirirem bens em supermercados.

Segundo o Índice de Preços no Consumidor (IPC) do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) de Moçambique, as três principais cidades moçambicanas registaram em março uma subida de inflação de 0,22% face a fevereiro.

Moçambique já registou oficialmente 39 casos da covid-19, sem mortes.

A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 167 mil mortos e infetou mais de 2,4 milhões de pessoas em 193 países e territórios. 

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