Nos dois primeiros dias em que foram libertados reclusos das prisões portuguesas, por conta da medida do governo para prevenir contágios por covid-19 nas cadeias, 27 recorreram às carrinhas de metadona da Ares do Pinhal, em Lisboa.
Segundo a Lusa, em Lisboa, a escassez de heroína levou 150 novos utilizadores a recorrer às carrinhas de metadona, uma substância utilizada, principalmente, no tratamento dos toxicodependentes de heroína e outros opioides, sendo praticamente idêntica, nas suas propriedades, à morfina. Além destes, também ex-reclusos começam a recorrer às carrinhas destas associações que dão apoio a pessoas com dependências. Nos dois primeiros dias de liberdade foram 27 os ex-reclusos a visitar a carrinha da Ares do Pinhal, como explica Elsa Belo, coordenadora geral.
A unidade móvel desta associação, que desde 1986 intervém junto de pessoas em situação de exclusão social, está diariamente no terreno, a partir das 10:30, e ao longo do dia percorre vários pontos da capital.
À Lusa, o psicólogo Hugo Faria, coordenador desta unidade, refere que estas pessoas “são postas em liberdade em situações de muita vulnerabilidade, em termos sociais e também de consumos”.
Explica ainda que estes são indivíduos que consumiam dentro das prisões ou que até estavam integrados num programa de metadona enquanto cumpriam pena, como no Estabelecimento Prisional de Lisboa, e que agora saem sem qualquer apoio social.
Além da metadona, a Ares do Pinhal já começa a providenciar ‘snacks’ a algumas pessoas mais necessitadas que, por viverem, muitas delas, da mendicidade não tem como obter dinheiro numa altura em que a população está confinada às suas casas.
“Toda esta situação, fez com que, de repente, começássemos a ver pessoas a pedir-nos ajuda para comer, mas genuinamente para comer”, conta Elsa Belo.
Relativamente à capacidade de resposta da Ares do Pinhal a coordenadora geral mostra-se confiante “nós estamos preparadíssimos para dar uma resposta clínica à situação que as pessoas estão a viver”, no entanto, admite que “as estruturas estão todas muito cheias” e que “nós trabalhamos com a franja da população mais frágil, e são estas as primeiras pessoas a perder os biscates, a perder os pequenos empregos”. Neste aspeto social, “vamos fazendo as nossas pontes”, conclui Elsa Belo apesar de assumir que “não sei se estaremos preparados”.
O Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) mostrou-se preocupado com esta situação e o diretor deste organismo público, João Goulão, referiu à Lusa que se está a procurar salvaguardar “uma almofada” de apoio financeiro a estas instituições.
“Ao abrigo do Plano Operacional de Respostas Integradas, aquilo que estamos a tentar é que possa haver alguma almofada que permita às equipas recrutarem mais um ou outro elemento ou adquirirem materiais que lhes fazem falta para acorrer às necessidades dos seus utentes. Dar-lhes algum conforto, alguma margem de progressão, e se tiverem que incorrer em despesas acrescidas, ter a garantia de que o Estado as ajudará nesse acréscimo de custos”, disse.