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Transplante de órgãos em Portugal diminuiu em 2018

LUSA
26-03-2019 12:36h

Número de transplantes diminuiu em 2018 em Portugal, ano em que se registou a média mais elevada de sempre na idade do dador (57,3 anos).

Segundo a coordenadora nacional de transplantação, Ana França, em 2018 foram colhidos 976 órgãos e realizaram-se 757 transplantes, menos 102 do que em 2017.

Na apresentação da atividade de doação e transplantação de órgãos, tecidos e células, a responsável salientou que no ano passado o tempo de espera para um doente ser transplantado diminuiu 3% e o que número de óbitos de doentes à espera de transplante diminuiu 2,9%, o que considerou “um dos valores mais baixos a nível internacional”.

Em 31 de dezembro existiam 2.186 pessoas à espera de um transplante, a maioria de rins. Segundo Ana França, 53% das pessoas que aguardam por um rim são transplantadas em menos de dois anos.

A ministra da Saúde, Marta Temido, que participou na sessão, sublinhou que “os resultados apresentados mostram bem que Portugal continua a ter uma posição cimeira relativamente à transplantação. Vale a pena sublinhar que Portugal continua a ser o segundo país com melhores resultados nesta área”.

Numa análise às causas da diminuição do número de transplantes, Marta Temido disse que o país não deixa de se “ressentir daquilo que é a tendência generalizada para o envelhecimento da população e, portanto, de alguma forma, de dadores com mais idade e menor possibilidade de doação”.

“Por outro lado, também se regista alguma evolução terapêutica em algumas áreas, como a hepatite C ou mesmo a paramidoilose, que têm conduzido a uma menor necessidade [de transplantação], e estas serão as duas prováveis causas para estes números”, referiu.

“Existem novos desafios, novas possibilidades de transplantação, novas técnicas, novas realidades, e é isso que temos de adotar se queremos continuar na vanguarda e a salvar vidas graças a estes progressos”, adiantou.

A ministra da Saúde disse ainda que merece “atenção e reflexão” o diferente desempenho dos vários hospitais integrados no Serviço Nacional de Saúde relativamente aos seus resultados de doação de órgãos.

“Não deixa de motivar a maior reflexão, verificarmos que, por exemplo, os hospitais mais de fim de linha, como os universitários, tenham resultados muito assimétricos”, sublinhou.

 Peritos apontam novos caminhos

A Sociedade Portuguesa de Transplantação manifesta preocupação com a diminuição do número de transplantes, apesar de considerar que era expectável face ao envelhecimento da população, e alerta para a necessidade de encontrar caminhos alternativos.

Entre as alternativas pode estar a promoção de ações que sensibilizem dadores vivos para doação em caso de transplante renal e o aumento dos profissionais nas unidades de cuidados intensivos, exemplificou em declarações à agência Lusa a presidente da Sociedade, Susana Sampaio.

A responsável reconhece que a descida da atividade da transplantação em Portugal era expectável, dado o envelhecimento da população, que reduz a qualidade dos órgãos doados para transplante. “Isto causa preocupação, porque pode acentuar-se o número de doentes em lista de espera [por um órgão]”, afirmou a médica.

É também necessário, segundo a médica, aumentar as equipas e apostar em recursos humanos que permitam que os profissionais tenham tempo e estejam mais atentos a potenciais dadores, nomeadamente nos cuidados intensivos.

Aliás, as campanhas de sensibilização deviam também passar pelos profissionais de saúde, de forma a que possam ajudar a sinalizar doentes que possam ser dadores. A presidente da Sociedade de Transplantação defende que Portugal deve também começar a discutir o eventual aumento dos transplantes em dador falecido e em paragem cardiocirculatória.

Atualmente, já se colhem e doam órgãos da parte de um dador falecido em paragem cardiocirculatória após tentativa falhada de reanimação.

Susana Sampaio entende que a comunidade científica e médica deve começar a discutir a possibilidade de legislar para que possam ser dadores de órgãos os doentes sem potencial de recuperação e que morrem depois da suspensão de suporte de funções vitais.

Em Portugal não há ainda base legal para que estes doentes sejam dadores de órgãos, apesar de isso já acontecer noutros países, como em Espanha.

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