A sobrevivente da covid-19 Diana Berrent, de 45 anos, fundou o movimento “Survivor Corps” em Nova Iorque para motivar outros doentes recuperados a participarem em projetos de estudo do novo coronavírus.
O movimento “Survivor Corps” começou em finais de março como um grupo na rede social Facebook. Agora, com mais de 31 mil membros, transformou-se numa plataforma com bases de dados para ligar novos projetos e estudos sobre a pandemia da covid-19 com outros sobreviventes e doadores de plasma sanguíneo.
A fundadora do grupo, Diana Berrent, residente de Nova Iorque e mãe de duas crianças, explica que foi confirmada como positiva a 18 de março.
Ao aperceber-se que poderia ser uma das primeiras sobreviventes da doença na sua área de residência, em Long Island, sentiu “maior responsabilidade e mais inconformidade”.
A página de Facebook do “Survivor Corps” já funciona como uma comunidade e um fórum, onde se partilham experiências, se expõem dúvidas e se dão respostas. O grupo dá ainda a conhecer outras pesquisas médicas que estão a ser feitas nos EUA e que procuram participantes.
Diana Berrent foi a primeira participante de um estudo na Universidade de Colúmbia de Nova Iorque para o teste de anticorpos presentes no plasma sanguíneo que reagem contra o novo coronavírus.
Os anticorpos são proteínas produzidas pelo sistema imunológico que podem neutralizar o vírus. A pesquisa clínica sustenta que um único sobrevivente da pandemia da covid-19 pode fornecer plasma suficiente para tratar dois ou três doentes.
Depois de se registar no programa e ser chamada, Diana Berrent foi novamente testada ao novo coronavírus, desta vez com um resultado negativo.
“Quando foi determinado que já não tinha o vírus e que tinha uma grande massa de anticorpos, estava pronta para a colheita de plasma e doar”, disse à Lusa.
Diana Berrent possui um tipo de sangue universal, ou seja, pode doar para todos os grupos sanguíneos, que é considerado “um bónus” pela voluntária.
Como doadora universal de sangue, dirigiu-se ao centro de sangue de Nova Iorque e passou pela “experiência mais gratificante” da luta contra a pandemia, de ajudar as pesquisas e os avanços médicos.
O especialista em medicina de transfusão e principal responsável da investigação em causa, Eldad Hod, afirmou à Lusa que “o conceito não é novo” no reforço da imunidade e que os resultados podem ser melhores com uma aplicação antecipada.
Ou seja, as pessoas que não estão infetadas podem receber plasma com anticorpos e impedir a infeção pelo novo coronavírus, defendeu o biólogo e professor de patologia e biologia celular na Universidade de Colúmbia.
O melhor exemplo para este estudo são os profissionais de saúde, “na linha da frente” e que enfrentam o risco todos os dias.
Na próxima semana, o programa da Universidade de Colúmbia vai conduzir três tipos de experiências para concluir se se trata de uma proteção eficaz contra o risco de infeção.
Uma das experiências, explicou Hod, poderá ser administrar plasma convalescente a metade dos participantes e plasma não convalescente (sangue doado antes de dezembro) à outra metade, para chegar a conclusões se existem diferenças na forma e rapidez como o corpo humano reage.
O biólogo acrescentou que os investigadores vão proceder “com muita precaução” para perceber as situações em que é seguro inserir os anticorpos no sangue, evitando que as partículas se tornem prejudiciais e causem uma inflamação maior aos que estão infetados.
Os resultados vão ser analisados na perspetiva de ‘size effect’ (avaliação do efeito) e a investigação pode ser uma medida de “adiamento do risco”, que pode dar mais tempo de sobrevivência até à criação de uma vacina definitiva contra a covid-19.
Eldad Hod falou na tentativa da criação “um recurso nacional de plasma convalescente, que pode ser usado em qualquer pessoa, em qualquer hospital, gratuitamente” e através do qual os doentes graves possam decidir receber plasma convalescente no sangue para expulsarem o vírus.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou mais de 124 mil mortos e infetou quase dois milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Dos casos de infeção, cerca de 413.500 são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
Os Estados Unidos são o país com maior número de infetados e mortos por coronavírus, contabilizando mais de 609 mil casos confirmados e mais de 26 mil mortes, segundo a Universidade Johns Hopkins.