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Covid-19: Sobrevivente norte-americana defende criação de “passaportes de imunidade”

LUSA
15-04-2020 11:52h

Uma sobrevivente da pandemia da covid-19 em Nova Iorque defende em declarações à Lusa a criação de “passaportes de imunidade” para se provar que uma pessoa recuperada não representa um risco de contágio da transmissão do novo coronavírus para outros.

“Sou 100% a favor que algo assim exista e acho que é absolutamente necessário para evitar aquele tipo de escolha binária entre a economia ou a vida”, disse Diana Berrent à Lusa, numa entrevista telefónica, em que refletiu sobre o levantamento de restrições sociais impostas pelos governos para conter a transmissão do vírus.

O “passaporte da imunidade” ou ainda o “passe de regresso ao trabalho” representa uma nova estratégia que está a ser pensado nos Estados Unidos e noutros países para constatar que antigos doentes podem regressar ao trabalho.

Pode tratar-se de dar um certificado a doentes que já estiveram infetados, recuperaram e passaram a ser considerados “seguros” por já terem criado imunidade ao vírus. Este documento seria uma prova de que uma pessoa que anteriormente teve o novo coronavírus está “limpa” e não representa um risco de saúde para outros, nomeadamente no local de trabalho.

A imunidade teria de ser provada com uma análise ao sangue, para determinar se existem os anticorpos certos para o novo coronavírus. Os especialistas consideram que os anticorpos são produzidos no sangue cerca de uma semana depois da infeção.

O objetivo final é ter uma prova exata, assinada pelas autoridades de saúde, de que os trabalhadores podem voltar a ser admitidos, numa tentativa de resposta ao desemprego que se verifica e à recessão económica.

Diana, de 45 anos, sobrevivente da covid-19 e participante voluntária de novas pesquisas clínicas adianta, no entanto, que existem problemas de logística ou até de conceito: “Temos obrigatoriamente de considerar os aspetos técnicos”.

“Em primeiro lugar, chamar de ‘passaporte de imunidade’, como chamamos aqui, é um termo erróneo, porque não sabemos a imunidade de cada pessoa”, explicou, com destaque para a diferença entre pessoas que recuperaram e pessoas que nunca estiveram infetadas.

“Podem existir fortes suspeitas de infeção, mas não se pode assumir até estar totalmente confirmado. Do que podemos realmente falar é se um doente pode contagiar outras pessoas”, completou Diana Berrent.

Outro problema será o número de testes necessários, já que um doente recuperado deve ser testado de novo, para se confirmar um resultado negativo e ter a certeza de que o vírus já não se encontra no sistema corporal.

A sobrevivente disse que “neste momento, nos Estados Unidos, esses testes não são suficientes para os trabalhadores da linha da frente, quanto mais para fazer múltiplos testes para pacientes recuperados”.

Diana Berrent, casada e mãe de dois filhos, foi diagnosticada com o novo coronavírus a 18 de março. Enquanto se encontrava de quarentena em casa, sem nenhum contacto social, criou uma um grupo na rede social Facebook intitulado “Survive Corps” para unir voluntários para novas pesquisas médicas com outros sobreviventes da doença.

O grupo, lançado há pouco mais de três semanas tem já mais de 31 mil membros que partilham experiências e esclarecem dúvidas, para além de divulgarem novas pesquisas clínicas à procura de sobreviventes voluntários.

Os Estados Unidos são o país com maior número de infetados e mortos por coronavírus, contabilizando mais de 609 mil casos confirmados e mais de 26 mil mortes, segundo a Universidade Johns Hopkins. O Estado de Nova Iorque é considerado o epicentro da pandemia no país.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou mais de 124 mil mortos e infetou quase dois milhões de pessoas em 193 países e territórios.

Dos casos de infeção, cerca de 413.500 são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

O número total de infetados na China desde o início da pandemia é de 82.249, dos quais 3.341 morreram e, até ao momento, 77.738 pessoas tiveram alta.

A China registou 46 novos casos de infeção nas últimas 24 horas, 10 dos quais de contágio local.

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