As medidas do Governo do Zimbabué para combater a covid-19 devem incluir urgentemente o acesso contínuo e a preços acessíveis a água potável suficiente para as pessoas em todo o país, defendeu hoje a organização Human Rights Watch.
Muito antes da pandemia do novo coronavírus, grande parte do Zimbabué sofreu uma grave crise de água e saneamento. Em 30 de março de 2020, o Zimbabué, tal como muitos países, ordenou um encerramento a nível nacional para retardar a propagação da covid-19.
"Impor o distanciamento social é extremamente importante para evitar a propagação da covid-19, mas as pessoas precisam de água limpa para beber, lavar as mãos e higiene", afirmou Dewa Mavhinga, diretor da Human Rights Watch para a África Austral.
E acrescentou: "O Governo do Zimbabué precisa de garantir um abastecimento ininterrupto de água potável para todos ou irá enfrentar riscos acrescidos para a saúde à medida que as pessoas procuram fontes de água alternativas e pouco seguras".
Mais de dois milhões de pessoas na capital, Harare, e na grande área metropolitana que integra Chitungwiza, Epworth, Ruwa e Norton, não têm acesso doméstico a água potável segura ou a serviços adequados de tratamento de resíduos e águas residuais.
Por seu lado, milhares de mulheres e de crianças em idade escolar chegam a passar oito a nove horas por dia e toda a noite em filas de espera junto a furos apinhados ou poços de água estreitos para obter água que pode não ser segura.
Nas últimas três décadas, o Zimbabué tem vindo a registar um declínio gradual no acesso a água limpa e segura. Em 1988, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) comunicaram que mais de 84% dos zimbabueanos tinham acesso a água potável.
De 2000 a 2017, a percentagem de pessoas com acesso a água potável e a serviços básicos de água diminuiu de 72% para 64% e o saneamento básico diminuiu de 46% para 36%.
A Constituição do Zimbabué de 2013 determina que "todas as pessoas têm direito a água segura, limpa e potável".
Durante uma emergência de saúde pública, o Governo pode restringir certos direitos, como a liberdade de circulação, quando estritamente necessário e com base em provas científicas, não arbitrárias nem discriminatórias na aplicação, de duração limitada e respeitadoras da dignidade humana.
No entanto, o Governo continua a ser obrigado a assegurar a satisfação das necessidades básicas das pessoas em situação de isolamento, incluindo o acesso a alimentos, água e serviços de saúde.
As autoridades do Zimbabué devem fornecer urgentemente fontes alternativas de água potável segura, como furos seguros e poços protegidos, e educar os residentes sobre métodos simples de armazenamento e distribuição de água segura a baixo custo.
Devem garantir a existência de pontos de água suficientes em todo o país para evitar a sobrelotação e permitir o distanciamento social.
"A covid-19 tornou ainda mais urgente uma já terrível e perigosa crise de água no Zimbabué", afirmou Dewa Mavhinga. "O não fornecimento de água potável suficiente prejudicaria gravemente os esforços do Governo do Zimbabué para combater o vírus e proteger a vida das pessoas".
O número de mortes provocadas pela covid-19 em África ultrapassou as 800 com mais de 15 mil casos registados em 52 países, de acordo com a mais recente atualização dos dados da pandemia naquele continente.
O Zimbabué tem 18 casos confirmados da covid-19 e três mortes.
O número de mortes provocadas pela covid-19 em África ultrapassou as 800 com mais de 15 mil casos registados em 52 países, de acordo com a mais recente atualização dos dados da pandemia naquele continente.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou mais de 124 mil mortos e infetou quase dois milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Dos casos de infeção, cerca de 413.500 são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.