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Ativistas defendem prevenção da tuberculose nos locais onde há focos da doença

LUSA
22-03-2019 19:02h

O presidente do Grupo de Ativistas em Tratamentos considera prioritário haver um sistema de prevenção da tuberculose nos locais onde há focos da doença e aumentar os rastreios da tuberculose latente nas populações com maior risco.

“Se tratarmos a tuberculose latente [estado em que o bacilo está adormecido, não estando a causar doença] evitamos o aparecimento da tuberculose”, afirmou Luís Mendão, em declarações à agência Lusa a propósito do Dia Mundial da Tuberculose, que se assinala no domingo.

Para Luís Mendão, a diminuição do número de novos casos de tuberculose “é um bom sinal”, mas observou que “Portugal ainda é um país onde a epidemia é grave”. “Dentro da Europa Ocidental é um dos países onde o número de casos por 100 mil habitantes é mais elevado e não se pode esquecer isso, mesmo com o progresso”, vincou.

As populações com maior risco são que as vivem em condições de insalubridade e de pobreza: “existe a epidemia portuguesa clássica que está cá há séculos, a isto juntam-se três populações chave que existiam menos no passado”, nomeadamente os imigrantes, os utilizadores de drogas e os sem-abrigo.

“Depois temos uma população que vive com o VIH/Sida, que não existia até aos anos 80 e que de alguma maneira se tornou um reservatório da tuberculose em Portugal”, disse, considerando que “é prioritário ter um sistema de prevenção nos focos de tuberculose”.

“Há uma série de respostas e de trabalho em conjunto, até com as autarquias, que é necessário fazer, nomeadamente mais rastreios da tuberculose latente nas populações de maior risco para identificar e tratar quem tem maior risco de desenvolver a doença”, defendeu Luís Mendão.

Também é preciso remover as potenciais barreiras nos acessos aos cuidados de saúde para os imigrantes e o tratamento da tuberculose latente nas pessoas com VIH que são “desproporcionalmente afetadas pela doença”.

O presidente do GAT salientou que “Portugal assumiu um compromisso sério em relação à tuberculose e para isso é preciso descer o número de novos casos a uma velocidade superior à que se verifica neste momento”.

“Sabemos que as pressões da sustentabilidade do sistema de saúde são prementes e, portanto, os recursos existentes têm se ser muito bem investidos naquilo que é prioritário”, que são as populações de risco.

O presidente do GAT observou ainda o aumento de casos de tuberculose em crianças, sendo a grande concentração nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto.

Na sequência de a estratégia nacional de vacinação com BCG para crianças ter mudado em 2016, passando a ser seletiva em vez de universal, Luís Mendão apelou às autoridades para analisarem a situação.

Numa resposta escrita enviada à Lusa, a diretora do Programa Nacional para a Tuberculose, Isabel Carvalho, afirmou que em 2017 foram notificados 32 casos de tuberculose em crianças até aos seis anos, quatro dos quais com formas graves da doença em crianças com menos de dois anos que não estavam vacinadas.

“Ao verificarmos que os casos graves tinham indicação para BCG, foram adotadas medidas de reforço no cumprimento da norma que identifica a elegibilidade para BCG”, disse a especialista, explicando que a vacina não consegue impedir o desenvolvimento da doença após exposição, mas reduz o risco das formas graves.

Isabel Carvalho apontou como explicações para este aumento face a 2016 a utilização, desde 2017, dos sistemas de notificação e de vigilância epidemiológica que permitem identificar todos os casos.

Por outro lado, “a diminuição da incidência de tuberculose em Portugal acarreta menor suspeição da doença e assim, um aumento nos dias de intervalo entre o início dos sintomas e o diagnóstico. Os adultos mantêm-se infecciosos durante mais tempo com consequente maior risco das crianças expostas”.

Questionada sobre se está a ser ponderada a revisão da estratégia, a especialista afirmou que “estará sempre dependente da vigilância epidemiológica”, que visa repensar estratégias na prevenção da tuberculose infantil.

“No entanto, mais uma vez, reconhecemos que a nossa ação deve ser o incentivo ao rastreio da tuberculose e incentivar e facilitar o cumprimento da norma”, sublinhou.

Em Portugal, a taxa de notificação da tuberculose tem vindo a diminuir a um ritmo que, nos últimos cinco anos, atingiu 6,4% ao ano. Em 2017 a taxa de notificação foi de 17,8 casos por 100 mil habitantes.

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