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Covid-19: Organizações moçambicanas preocupadas com comunidades afetadas por violência armada

LUSA
13-04-2020 13:42h

Mais de 40 organizações da sociedade civil moçambicana manifestaram-se hoje preocupadas com a vulnerabilidade das comunidades afetadas pela violência armada no Centro e Norte do país, face à propagação do novo coronavírus.

"Consideramos que o contexto de guerra constitui fator de risco para o cumprimento das normas de prevenção da covid-19, assim como a implementação do estado de emergência", lê-se num documento assinado por 43 organizações da sociedade civil moçambicana.

Em causa estão os ataques armados que provocaram a morte de pelo menos 350 pessoas desde 2017 e que organizações internacionais classificam como uma ameaça terrorista em Cabo Delgado, Norte de Moçambique, e outras incursões armadas que desde agosto provocaram 22 óbitos e são atribuídas a dissidentes da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) nas províncias de Manica e Sofala, Centro de Moçambique.

Para as organizações da sociedade civil moçambicana, a intensificação dos conflitos implica a movimentação das comunidades, um risco acrescido face à covid-19.

"Sem o devido acompanhamento destas movimentações por parte do Estado, particularmente o setor de saúde, poderemos assistir a um cenário de elevada propagação do vírus nestas regiões", referiu-se na nota.

Além da insegurança nestes pontos, as organizações da sociedade civil moçambicanas alertaram que o estado de emergência pode resultar em abuso de poder e uso excessivo da força por parte da polícia e das forças armadas de defesa.

"Em diferentes ocasiões a polícia demonstrou claro despreparo na interação social em situação de crise, decorrendo daí a nossa preocupação no sentido de evitar que a implementação das medidas decretadas por parte dos agentes de defesa e segurança seja feita de forma repressiva, resultando em violência e violações de direitos humanos", acrescentou o documento.

No documento sugeriu-se ainda que as autoridades moçambicanas solicitem estudantes finalistas dos cursos de medicina e enfermagem do ensino superior público e privado para reforçar o sistema de moçambicano de saúde, além de pedir apoio a países como Cuba, Rússia e China.

É necessário "assegurar a disponibilidade de material de proteção e higienização para a equipa de saúde que está na linha da frente e para todos os funcionários que prestem serviços de atendimento ao público", frisou.

Com o registo oficial de 21 casos de infeção pelo novo coronavírus, sem vítimas mortais, Moçambique vive em estado de emergência durante todo o mês de abril, com espaços de diversão e lazer encerrados, proibição de todo o tipo de eventos e de aglomerações.

Durante o mesmo período, as escolas estão encerradas e a emissão de vistos para entrar no país está suspensa.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou mais de 114 mil mortos e infetou mais de 1,8 milhões de pessoas em 193 países e territórios.

Dos casos de infeção, quase 400 mil são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

Em África, há registo de 788 mortos num universo de mais de 14 mil casos em 52 países.

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