Um analista timorense defendeu que os apoios económicos do Governo para lidar com as consequências da covid-19 deve apostar no fortalecimento da produção local, especialmente no setor agrícola, e reduzir a dependência das importações.
“Embora a situação atual possa causar problemas significativos para Timor-Leste, podemos também usá-la como uma oportunidade para melhorar significativamente a segurança alimentar, a saúde e a nutrição e, simultaneamente, aumentar as oportunidades de emprego e diminuir a nossa dependência das importações”, considerou o jurista timorense Avelino Coelho.
“Devido ao efeito multiplicador económico, cada dólar gasto na importação de alimentos equivale a dez dólares desperdiçados que poderiam ter sido utilizados para aumentar a capacidade produtiva do nosso país”, argumentou o antigo secretário de Estado do Conselho de Ministros, no V e VI Governos, num artigo de análise enviado à Lusa.
Avelino Coelho questionou o impacto de eventuais subsídios às famílias, que podem refletir-se apenas no consumo e no setor do retalho, sem efeitos mais amplos na economia local, especialmente a nível de produção.
“O que agora enfrentamos é uma escassez do lado da oferta, e é isso que temos de resolver. Mesmo que não houvesse escassez de alimentos importados, colocar dinheiro nas mãos de famílias e empresas individuais é contraproducente se a maior parte desse dinheiro for gasto em alimentos importados”, sustentou.
“O efeito será apenas aumentar o maior item de exportação do nosso país - o dólar americano e agravar a nossa situação económica”, disse.
O Governo timorense tem vindo a debater um amplo pacote de medidas económicas, ainda não aprovado, que incluem eventuais apoios diretos em dinheiro às famílias.
Por isso, o analista insistiu ser vital que a resposta económica aposte no investimento estratégico “na produção local de alimentos, com especial incidência na valorização da atual época de plantação, e tendo em vista a época imediatamente seguinte”.
Trata-se de aproveita a oportunidade para “pôr fim ao mito de que Timor é incapaz de se alimentar a si próprio e, especificamente, para quebrar a perceção de dependência do arroz importado”, considerou.
“Temos de acabar com o mito de que é difícil para o Governo criar emprego. Temos de acabar com o mito de que para se tornar uma sociedade moderna Timor tem de ignorar as suas populações rurais e os seus agricultores, os seus recursos, as suas competências e os seus conhecimentos”, salientou.
Avelino Coelho notou que as cadeias de abastecimento mundiais, incluindo as de importação de alimentos para Timor-Leste, continuarão a ser afetadas pelos efeitos indiretos da pandemia da covid-19.
Entre outros exemplos, referiu a possível falta de disponibilidade de importações de arroz, o que pode levar a que “o impacto na segurança alimentar do país em geral e, mais especificamente, no estado de saúde e nutrição dos grupos vulneráveis da população possa ser ainda maior do que os efeitos do próprio vírus”.
“Tendo em conta as estatísticas sobre saúde e nutrição no nosso país, pedir às pessoas que comam menos alimentos não é uma solução viável. Qualquer esgotamento da segurança alimentar pode, por exemplo, ter o efeito de agravar a nutrição da nossa população e, por sua vez, de baixar a sua imunidade à doença, sendo os dois mais significativos atualmente a covid-19 e a tuberculose”, referiu.
Timor-Leste resgitou, até agora, dois casos da covid-19, um dos quais já recuperou.
A pandemia da covid-19 já causou mais de 112 mil mortos e infetou mais de 1,8 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto do novo coronavírus (SARS-CoV-2) espalhou-se por todo o mundo, os Estados Unidos são agora o país que regista o maior número de mortes (mais de 22 mil) e de infetados (mais de 555 mil).