Um estudo apresentado hoje em Cabo Verde aponta que quase 39 mil pessoas podem já estar infetadas com covid-19, enquanto uma projeção da Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê 100 mil infetados dentro de um ano no país.
“Não é confiar na previsão, a previsão é algo teórico. Mas é juntar a previsão com aquilo que se passa no dia-a-dia. E o dia-a-dia está a dizer-nos a melhor curva [da pandemia] que prevê”, explicou José Augusto Fernandes, consultor do Ministério da Saúde cabo-verdiano, durante a apresentação de um de dois estudos com cenários da evolução da covid-19 em Cabo Verde, que decorreu hoje na cidade da Praia.
O estudo produzido por José Augusto Fernandes é feito a quatro meses, com base em dados da Direção Nacional de Saúde de Cabo Verde, e aponta um cenário de 74,1% de infetados por covid-19 entre a população cabo-verdiana, desde casos assintomáticos até aos mais graves, caso não se cumpram as regras de distanciamento social e medidas de proteção.
Na mesma sessão, organizada pela Direção Nacional de Saúde e pelo Governo cabo-verdiano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apresentou também uma projeção para Cabo Verde, preparada pelo escritório regional de África, neste caso a um ano (20 de março de 2021), que prevê que a covid-19 atinja 20% da população, equivalente a 100.377 pessoas, dos quais 83% assintomáticos, e 44 mortos, no pior dos cenários.
Hernando Agudelo, representante da OMS para Cabo Verde, destacou, durante a apresentação do estudo, que são apenas previsões, embora sublinhando a sua importância, por questões de planeamento de saúde pública: “Para planificar os serviços de saúde, quantas pessoas têm que trabalhar, quantos ventiladores, quantas camas”, explicou, aludindo às necessidades que os vários cenários implicam para o serviço nacional de saúde.
Contudo, todos ressalvam que os modelos estatísticos foram preparados com base nos indicadores e evolução noutros países, alguns dos quais, como China e Itália, fortemente afetados pela pandemia e pela sua rápida evolução.
Para Hernando Agudelo, as medidas já adotadas em Cabo Verde mostram que a “contenção ajuda”.
As projeções são feitas em função da eficácia e nível de cumprimento das medidas de distanciamento social adotadas, desde o encerramento das escolas, às limitações impostas aos transportes públicos, até ao estado de emergência, com confinamento obrigatório, em vigor desde 29 de março, ou mesmo o fecho do país a voos internacionais e ao encerramento das ligações interilhas.
“Creio que estas medidas de contenção estão a ter um efeito bastante bom no país”, sublinhou o representante da OMS.
Desde o início da pandemia, as autoridades cabo-verdianas realizaram cerca de uma centena de testes, que resultaram em sete casos positivos de covid-19.
O primeiro caso de covid-19, registado na ilha da Boa Vista, um turista inglês de 62 anos que acabou por morrer, foi confirmado em 20 de março e o último, uma cidadã chinesa de 56 anos residente em São Vicente, em 03 de abril.
Contudo, a projeção da OMS estima que o pico de casos em Cabo Verde poderá ter sido atingido em 09 de abril, com 4.338 pessoas infetadas e uma morte.
No melhor dos cenários em função da aplicação das medidas de proteção, a projeção preparada por José Augusto Fernandes admite a possibilidade de Cabo Verde chegar aos 500 mortos por covid-19 em quatro meses, para um universo de 45.429 casos de infetados. Caso não fossem adotadas medidas de proteção, as projeções subiam para 165.505 casos de infetados por covid-19 em Cabo Verde, para uma população que ronda as 550 mil pessoas, e um total de mortos estimados em 1.821.
Tendo como base os testes realizados, os doentes já confirmados e outros modelos estatísticos, o estudo apresentado por José Augusto Fernandes fez uma extrapolação para um total de 38.961 pessoas que já “podem estar infetados” com covid-19 em Cabo Verde.
“E porque é que isso é importante? Se nós já temos a curva que mais aproxima o dia a dia, essa curva serve para fazer previsão daqui a dez dias. O que é que acontece daqui a dez dias, o que é que poderá estar a vir daqui a dez dias e então não nos apanhar desprevenidos, seja ao nível hospitalar, seja o nível dos coveiros, do cemitério, ao nível de várias outras infraestruturas”, sublinhou José Augusto Fernandes.
O país cumpre hoje 13 dias, de 20 previstos, de estado de emergência para conter a pandemia provocada pelo novo coronavírus, com a população obrigada ao dever geral de recolhimento, com limitações aos movimentos, empresas não essenciais fechadas e todas as ligações interilhas e para o exterior suspensas.
O estado de emergência em Cabo Verde foi decretado pelo Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, pela primeira vez, em 29 de março, para vigorar pelo menos por 20 dias, para tentar travar a pandemia de covid-19 no arquipélago.
A pandemia de covid-19, causada pelo novo coronavírus, já provocou mais de 96 mil mortos e infetou quase 1,6 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Em África, há registo de 630 mortos num universo de mais de 12.219 casos em 52 países.