Carlos Sequeira, Professor no CINTESIS e na Escola Superior de Enfermagem do Porto, falou em entrevista ao S+, sobre o mais recente estudo que pretende analisar o impacto da pandemia na saúde mental dos enfermeiros, com o objetivo de “conhecer a realidade efetiva para depois dar respostas adequadas”.
Carlos Sequeira não tem dúvidas de que a situação atual de pandemia terá um impacto muito significativo na saúde mental da população em geral, como na de todos os profissionais que estão na linha da frente, e que têm “ o principal medo de se contaminarem, ou o de contaminar os outros”. No entanto, “as realidades podem ser distintas em função dos contextos em que cada um se encontra”, como o facto de viverem ou não com população idosa, de risco ou filhos.
Assistimos atualmente a testemunhos de profissionais que estão, em média, com uma carga horária que vai de doze a quatorze horas diárias e sem o descanso recomendado, o que pode levar naturalmente a uma grande sobrecarga e a problemas com impacto negativo para a sua saúde mental, acrescenta o professor Carlos Sequeira.
Acredita ainda que “a forma como cada um olha para a situação, de forma otimista ou pessimista, ou a forma como a própria equipa encara este momento, com pensamentos negativos ou catastróficos, podem influenciar o impacto que esta pandemia pode vir a ter em cada um.
Questionado sobre o apoio que estes profissionais necessitam, Carlos Sequeira, afirma que “Medidas como a criação de um espaço para se ouvirem as queixas dos profissionais e para orientar sobre algumas estratégias simples e esclarecer sobre as emoções que são, ou não, naturais que aconteçam neste momento, são fundamentais.”
“Um dos receios é que como esta é uma situação nova e desconhecida, as pessoas se inibam de pedir ajuda pela necessidade que têm de prestar os cuidados, o que faz com que deixem arrastar situações que se possam tornar mais graves no futuro”, adianta.
Estão também já a ser realizados estudos sobre o impacto do isolamento na saúde mental da população em geral, uma vez que “o mais importante é nós conhecermos a realidade efetiva para depois darmos as respostas mais adequadas”.
Viver num apartamento sem espaços exteriores, passar por carências financeiras, ou ter algum ou vários elementos do agregado que perderam o trabalho, são alguns dos fatores que podem alterar o impacto na saúde mental das populações, face a esta situação pandémica.
Este estudo, realizado por uma equipa de investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde , vai permitir avaliar ao longo do tempo quer a frequência dos sintomas que as pessoas apresentam, como a repercussões que estes têm na sua vida, para que no final seja possível dar resposta às pessoas que apresentem um maior número ou maior intensidade. “Esse vai ser, sem dúvida, um grande desafio”, realça.
Esclarece que “é muito importante preparar não só os profissionais específicos da saúde mental, como também todos os outros profissionais” e “o mais importante é irmo-nos preparando para quando esta situação terminar, podermos ajudar as pessoas que possam ficar com algumas sequelas desta situação.”
Se é enfermeiro e exerce funções num contexto de prática clínica, pode participar neste estudo, aqui.