A Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) prepara-se para apresentar à secretaria de Estado do Turismo uma proposta que permite aos hotéis atribuir ‘vouchers’ aos clientes com reservas canceladas devido à pandemia, em alternativa ao reembolso imediato.
Falando durante a apresentação dos resultados de um inquérito para avaliar o impacto da pandemia de covid-19 no setor, a presidente executiva da AHP explicou que o objetivo é aliviar a tesouraria da hotelaria, para quem “devolver esse dinheiro sem mais” seria algo que “pesaria brutalmente”.
“O que a nível europeu se está a fazer é uma gestão dessa situação junto do consumidor, propondo um ‘voucher’ que pode ser usado numa futura reserva, ou até ser passado a terceiros durante um período de tempo, ou a possibilidade de remarcar a viagem sem custos adicionais nos 12 ou 18 meses seguintes”, disse Cristina Siza Vieira.
Segundo referiu, “só no final desse período de tempo, caso não possa ser concretizada a viagem, [o cliente] terá então direito à devolução”.
De acordo com a AHP, a proposta deverá ficar fechada ainda hoje e visa responder às “muitas reclamações” que a associação tem vindo a receber de associados, que dizem estar a ser chamados pelas agências de viagens ‘online’ (OTA) a rebater as devoluções que estas estão a fazer aos clientes, mesmo de tarifas à partida não reembolsáveis, devido às circunstâncias “de força maior” geradas pela pandemia.
“Devolver esse dinheiro sem mais é algo que pesa brutalmente na hotelaria. Por isso, o que se está a fazer é este diferimento (a APAVT - Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo fez algo análogo relativamente às viagens organizadas, nomeadamente de finalistas) para permitir um respirar, ou seja, não tenho que devolver imediatamente tudo, vou negociar com o meu cliente um adiamento e ele pode usar isto durante um período de tempo”, referiu a dirigente associativa.
Desta forma, disse, cria-se uma “situação de solidariedade entre empresas e consumidores, na expectativa de que esta situação normalize”.
Durante a apresentação dos resultados do inquérito à hotelaria, realizado entre 01 e 07 de abril junto de 60% dos associados da AHP, Cristina Siza Vieira considerou ser ainda “prematuro” falar em despedimentos e insolvências no setor, avançando a forte adesão da hotelaria ao ‘lay-off’ (mais de 90% dos inquiridos confirmaram o recurso a este instrumento na sequência da crise gerada pela pandemia, abrangendo em média 85% dos trabalhadores ao serviço) como um fator “importante para evitar despedimentos”.
“A nossa convicção é que o ‘lay-off’ possa atenuar eventuais insolvências e despedimentos se a retoma depois se fizer a partir de junho/julho, mesmo que modesta. Mas não podemos dizer que não há despedimentos, se houver encerramentos definitivos estes ocorrerão, mas neste momento é prematuro”, afirmou.
Na opinião da dirigente associativa, “os grupos já com operação mais estabilizada, menos descapitalizados e mais equilibrados financeiramente têm mais estofo para aguentar esta situação, enquanto os mais novos e pequenos, em início de atividade e com dívida, terão outras dificuldades”.
“É ainda prematuro falar em despedimentos e insolvências, porque ainda estamos no início desta crise, mas os mais pequenos é que nos parece que terão mais dificuldades”, reiterou.
Face ao “tão grande impacto” que a crise está a ter no setor da hotelaria, Cristina Siza Vieira está certa de que “todo o país vai sofrer”, não fazendo por isso sentido tentar determinar quais as regiões turísticas que serão mais afetadas, mas antecipa que “vai haver ritmos de retoma diferente no país” e que a recuperação “vai passar pelo mercado interno”.
“A recuperação do turismo vai passar pelo turismo interno, disso ninguém tem dúvidas, desde logo pelo temor de viajar, mas também pelos menores recursos para o fazer, pelo estado das companhias aéreas e finalmente também para ajudar o país, fazendo férias cá dentro”, sustentou.
Neste contexto, antecipou Cristina Siza Vieira, “os destinos Centro, Norte e Alentejo, que têm uma maior preponderância do mercado nacional, recuperarão mais rapidamente”, sendo “convicção” da AHP que “vai haver um efetivo empenho dos hoteleiros em encontrar produtos/campanhas/atrativos específicos para o mercado interno”.
A este propósito, a presidente executiva da AHP destacou a importância que o mercado espanhol pode ter na retoma do setor, quando começarem a ser aliviadas as restrições relacionadas com a pandemia: “Quando olhamos para o mercado interno, olhamos para um mercado interno alargado, Espanha e Portugal, e acho que o incremento desta ligação a Espanha é fundamental e vai ocorrer, não com campanhas dos hoteleiros, mas das entidades oficiais”, sustentou.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 1,4 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 82 mil.
Portugal, onde os primeiros casos de covid-19 confirmados foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até ao final do dia 17 de abril, depois do prolongamento aprovado na quinta-feira na Assembleia da República.
Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 380 mortes, mais 35 do que na véspera (+10,1%), e 13.141 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 699 em relação a terça-feira (+5,6%).