A coordenação distrital de Aveiro do Bloco de Esquerda (BE) denunciou hoje que a fabricante de componentes para o ramo automóvel Faurecia prepara-se para despedir 450 trabalhadores com contratos temporários em duas unidades de São João da Madeira.
Os deputados Moisés Ferreira e Nelson Peralta explicaram hoje à Lusa que em causa estão as fábricas Faurecia Moldados, que emprega cerca de 1.200 trabalhadores e em março esteve encerrada pelo menos uma semana, e Faurecia Metal, que conta com aproximadamente 900 operários e pela mesma altura registava um caso confirmado de covid-19 entre os funcionários, o que obrigou à quarentena de 30 pessoas.
"Estamos a falar de duas unidades de uma multinacional que movimenta muitas receitas e que, ao longo dos anos, tem recebido inúmeros apoios para a sua fixação em Portugal, mas que agora está a usar como argumento a existência da pandemia relacionada com a covid-19 para fazer despedimentos de forma massiva", defenderam os responsáveis do BE.
Moisés Ferreira e Nelson Peralta já questionaram o Ministério do Trabalho e Segurança Social sobre a situação, defendendo que "o Governo deve fazer uso da possibilidade de impedir despedimentos que lhe é conferida pelo atual estado de emergência".
Reclamando também que "a Autoridade para as Condições do Trabalho deve intervir imediatamente neste caso" de forma a preservar os postos laborais e "não permitir que multinacionais aproveitem a crise epidémica para despedir a seu bel-prazer", os bloquistas querem ainda ver fiscalizados os contratos temporários associados à atividade da Faurecia, por defenderem que esses representam "não necessidades pontuais, mas sim necessidades permanentes".
Os deputados notam que, estando a Faurecia já "em ‘lay-off’" (regime que prevê a suspensão temporária dos contratos de trabalho ou a redução pontual dos horários laborais), isso representa "um drama social" por si só, agravado ainda mais "pelo facto de muitos destes trabalhadores temporários não terem descontos suficientes para a Segurança Social para poderem aceder ao subsídio de desemprego".
"O pior que se pode fazer é acrescentar uma enorme crise social a esta crise sanitária, pelo que os despedimentos devem ser combatidos e os empregos devem ser preservados", sustentam.
Contactadas pela Lusa, nenhuma das referidas unidades da Faurecia esteve disponível.
Segundo dados da Câmara Municipal de São João da Madeira, distrito de Aveiro, na terça-feira à noite registavam-se 46 casos confirmados de covid-19 no concelho de cerca de 21.700 habitantes e oito quilómetros quadrados.
O novo coronavírus responsável pela presente pandemia foi detetado na China em dezembro de 2019 e já infetou mais de 1,4 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais mais de 80.000 morreram.
Em Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, o último balanço da Direção-Geral da Saúde indicava 345 óbitos entre 12.442 infeções confirmadas. Desse universo de doentes, 1.180 estão internados em hospitais, 184 recuperaram e os restantes convalescem em casa ou noutras instituições.
A 17 de março, o Governo declarou o estado de calamidade pública no concelho de Ovar e, a 19 de março, o estado de emergência em todo o país. Ambos vigoram até às 23:59 do dia 17 de abril.