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Covid-19:Associação de cuidados paliativos quer colaborar nas decisões éticas difíceis

LUSA
03-04-2020 11:23h

A Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP) defendeu hoje que os profissionais de saúde médicos desta área devem colaborar nas “decisões éticas difíceis”, apoiando os colegas de medicina de urgência ou cuidados intensivos durante a pandemia de Covid-19.

“Portugal encontra-se perante um dos maiores desafios da sua história recente, colocando no terreno todos os esforços para prevenir um aumento dos casos de covid-19, mas preparando-se igualmente para a possibilidade de que esses esforços nem sempre alcancem os resultados que tanto desejaríamos”, afirmou o presidente da associação, Duarte Soares.

A APCP renova a “total disponibilidade” de trabalhar junto das entidades públicas, do setor social e privado, para apoiar os serviços de “agudos”, abordando as necessidades paliativas de uma forma mais alargada, particularmente na transição para os cuidados de fim de vida.

Segundo Duarte Soares, os cuidados paliativos podem marcar a diferença na abordagem aos sintomas físicos, como a falta de ar, na prevenção e redução dos problemas clínicos, como por exemplo em contexto comunitário ou lares de idosos onde as equipas comunitárias de suporte nestes cuidados “são tão importantes”.

Podem também colaborar “decisivamente” na promoção do apoio psicológico, emocional e social a doentes, melhorando o bem-estar de famílias, cuidadores e profissionais durante e após esta pandemia.

“Os cuidadores informais estão numa situação muito crítica, os cuidadores formais também, sentimos que há muita resiliência, mas há um natural desgaste de todo este processo e os profissionais de cuidados paliativos têm ferramentas, experiência e vontade de poder contribuir decisivamente nesta situação e no sistema de saúde para quem nos requisitar”, disse Duarte Soares à agência Lusa.

Para o médico, os cuidados paliativos também são “uma componente” essencial desta “linha da frente”, face ao sofrimento causado a tantos doentes e famílias.

Podem ajudar os mais vulneráveis a não recorrerem às urgências e a internamentos evitáveis e apoiar as famílias nas situações de sofrimento decorrente da exposição à doença grave e a até na morte.

“Neste momento as famílias estão praticamente impedidas de acompanhar presencialmente os doentes nas unidades hospitalares e esta é uma situação que nos sensibiliza muito”, afirmou o médico, explicando que esta situação tem sido atenuada com os contactos que as unidades vão fazendo com as famílias pelo telefonema e através de videoconferências.

Mas advertiu que o luto nestas circunstâncias será “um período difícil, que deve ser devidamente apoiado”.

“É um drama esta potencial criação de lutos patológicos de situações que por um impedimento maior, completamente alheio à situação de cada um, as pessoas não poderem acompanhar os seus familiares”, sublinhou Duarte Soares.

Para o médico, esta “será uma das grandes batalhas futuras”, lembrando que “prezar e cuidar” para preservar a saúde mental “é um dever de todos”.

Também manifestou preocupação com a eventual propagação da doença em instituições, salientando o papel que as equipas de apoio comunitário e de apoio domiciliário podem ter nesta matéria, tentando “manter os doentes nas suas comunidades, nos seus domicílios, com um risco muito menor de contágio daquele que seria em ambiente hospitalar”

A APCP deixou ainda “uma mensagem de encorajamento e de esperança” a todos os profissionais de saúde, afirmando que “são verdadeiros heróis nesta pandemia”.

O novo coronavírus, que provoca a doença covid-19, já infetou mais de um milhão de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 51 mil.

Dos casos de infeção, cerca de 190.000 são considerados curados.

Em Portugal, segundo o balanço feito na quinta-feira pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 209 mortes, mais 22 do que na véspera (+11,8%), e 9.034 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 783 em relação a quarta-feira (+9,5%).

Dos infetados, 1.042 estão internados, 240 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 68 doentes que já recuperaram.

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