O académico Carlos Oliveira disse hoje que a medicina de precisão no tratamento de doenças oncológicas ainda não está acessível a toda a população porque existem medicamentos que ainda não estão aprovados pela autoridade do medicamento Infarmed.
"Há medicamentos que estão de facto disponíveis, teoricamente, mas que ainda não passaram pela malha do Infarmed, que com toda a razão obriga a que haja uma evidência científica", salientou o especialista à agência Lusa, a propósito do congresso "Cancro: da Medicina Personalizada à Medicina de Precisão", que se vai realizar em Coimbra, em novembro.
Segundo o responsável pelo congresso, "neste momento vive-se um pouco o dilema de estarem disponíveis medicamentos que são eventualmente eficazes em doentes com determinadas alterações genéticas, mas que ainda não completaram o crivo científico para se mostrar de facto que são de evidência e um benefício".
A medicina de precisão "tem sido sobretudo utilizada em doentes que metastizaram, isto é, que, depois de tratados convencionalmente, o tumor reapareceu em localizações diversas e em que normalmente havia poucas hipóteses de tratamento", explicou o académico.
"Agora surgem estas possibilidades de utilização destes medicamentos associados a uma outra medida que é a imunoterapia e o tratamento do doente com células do próprio organismo", disse Carlos Oliveira, explicando que a medicina de precisão é baseada na genética.
O antigo presidente da LPCC no Centro adiantou que a medicina de precisão "tem a ver com a possibilidade de, no futuro, eventualmente, também ainda não está demonstrado, por exemplo, em vez do rastreio do cancro da mama ser feito por mamografia, ser feito por uma simples colheita de sangue".
Nessa análise, vai-se "pesquisar no sangue a presença de células tumorais, que podem estar na circulação e ainda não deram em tumor, que se possa ver e identificar numa radiologia convencional".
"Isto é um tema bonito, que está no início. Só em 2013 é que o genoma humano foi descodificado e, portanto, em 2019, ainda estamos a dar os primeiros passos", frisou o responsável pelo congresso.
De acordo com Carlos Oliveira, verifica-se atualmente um aumento da incidência do cancro, que, sobretudo, "tem a ver com o envelhecimento da população, porque o cancro é muito mais frequente nas pessoas com idades mais avançadas".
Nestas circunstâncias, "havendo um aumento da percentagem dessas pessoas [acima de 65 anos], e isso é progressivo, é natural e está a acontecer haver um maior número de cancros".
Por outro lado, acrescentou, nalguns cancros em que o diagnóstico e o rastreio precoce são possíveis, regista-se um aumento da sobrevivência, como o da mama e próstata, por exemplo, ao contrário do pulmão, que continua com uma mortalidade muito elevada.
"O cancro hoje é considerado uma doença crónica, quando no passado, só com a palavra, a pessoa pensava que já estava morta. Sobrevive-se muitos anos a vários tipos de cancro devido a progressos significativos no diagnóstico precoce, novos tratamentos e à custa do rastreio", sublinhou Carlos Oliveira.
O Congresso "Cancro: da Medicina Personalizada à Medicina de Precisão", decorre em 22 e 23 de novembro, em Coimbra, com o desafio de efetuar "uma reflexão crítica acerca dos pressupostos, limites e possibilidades da medicina personalizada e medicina de precisão".
Estarão em debate temas como o Rastreio Personalizado, Prevenção do Cancro Hereditário, Aconselhamento Genético, Perfil Genómico, Biópsia Líquida, Biomarcadores, Inteligência Artificial, Imunoterapia Personalizada, Necessidade Apoio Psicológico, Impacto Económico e Financeiro da Medicina Personalizada e Limites Ético da Medicina Personalizada.
Com a participação de vários especialistas nacionais e um sueco, a iniciativa é dirigida a profissionais e estudantes das áreas da saúde e das ciências sociais e voluntários da LPCC.