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Covid-19: Presidentes de junta na linha da frente nas aldeias transmontanas

24-03-2020 17:13h

O papel dos presidentes de junta já era “muito presente” na vida das aldeias transmontanas e passou a ser muito mais com a pandemia da covid-19, devido ao crescendo de solicitações, como revelaram hoje à Lusa alguns autarcas locais.

Nem que seja apenas para a companhia de uma conversa ao telefone, o primeiro a quem as pessoas recorrem é aos presidentes da junta, que nos últimos dias estão de serviço permanente para atender às necessidades e angústias.

“O nosso papel nestas freguesias é muito presente, todos têm o nosso telefone e muitas vezes ligam mais por companhia. Agora, com este isolamento, começaram a ligar mais, a preocupar-se em tirar dúvidas, pedem compras, bens de primeira necessidade”, contou à Lusa, Nuno Diz, presidente do Parâmio, no concelho de Bragança.

O autarca não vê “teimosia por parte dos idosos”, vê “até as pessoas bastante sensibilizadas”, nas quatro aldeias da freguesia, cada uma com entre “40 a 50 pessoas e os cafés encerrados” e onde “não se veem pessoas na rua, o que é muito bom”.

“É lógico que eles têm de continuar com o dia-a-dia, com as lides do campo, a alimentação dos animais, mas mantêm o isolamento social”, assegurou.

A maior dificuldade que tem encontrado “tem sido sempre para que as pessoas do meio urbano não se desloquem para as zonas rurais” para manter saudáveis os que lá estão.

O que mudou também com a pandemia é que as pessoas nas aldeias “já não abrem a porta a toda a gente”.

Na freguesia de São Pedro Velho, em Mirandela, as pessoas batem à porta principalmente por causa da medicação, segundo o presidente, Carlos Pires.

“Trazem as receitas, eu tiro fotos com o telemóvel e envio, juntamente com os documentos, para a farmácia da Torre D. Chama, que depois manda a medicação pelos bombeiros”, explicou o autarca.

A população pede também para pagar faturas, carregamentos de telemóvel e a resposta às solicitações deixou de ter dias marcados, à terça e à quinta-feira, e “agora é todos os dias”.

O presidente continua a sensibilizar contra “algum desleixo” dos que teimam nas conversas entre vizinhos, mas “o principal medo é quando aparecem pessoas de fora”.

Nos últimos dias “há mais 15 pessoas na aldeia” que vieram do litoral e a necessidade de gerir as sensibilidades dos que ficam “incomodados” quando são avisados para “ficar em casa”.

“É difícil convencer as pessoas de que não é perseguição, nem discriminação, tem de ser assim”, afirmou.

A GNR ajuda nestas situações, “funciona com outro tipo de força e tem também passado pela aldeia com altifalantes” a alertar para cumprirem o isolamento social.

 Aquela força policial “liga quase todos os dias, vai perguntando se há alguém de novo na aldeia” e a freguesia está também “constantemente a receber informação da Câmara de Mirandela e da Proteção Civil”.

Em Vilarinho de Agrochão, concelho de Macedo de Cavaleiros, o presidente, Manuel Mico, acredita que os autarcas locais são “o suporte desta gente das aldeias” e para evitar que as pessoas saiam à rua a Câmara Municipal transformou o balcão móvel de serviços em distribuidor de medicamentos e bens de primeira necessidade.

O único senão que aponta “é estar atento às pessoas que regressam à aldeia”. Na dele não há muito emigrantes, mas têm “muita gente em Lisboa”.

O presidente da junta já teve de abordar um dos que regressou e que, depois do aviso, está a cumprir os 14 dias de confinamento obrigatório.

No Castedo, em Torre de Moncorvo, os dias de Luísa Pinto Ferreira “têm sido muito complicados” da aldeia para a sede de concelho e vice-versa.

A autarca é funcionária pública e está em teletrabalho, mas tem de dar apoio à população e quase não tem tido tempo para trabalhar em casa.

No início, começou pela sensibilização e chegou a ouvir dos mais resistentes: “mas você está a brincar connosco?”

“Agora já estão mais conscientes, muitos já não saem de casa e quando andam na rua já andam sozinhos”, afirmou.

São cerca de 130 fregueses e a presidente consegue ir “quase todos os dias a todas as casas”, perto de 90 ocupadas, com prioridade aos mais idosos e aos que vivem sozinhos e com as necessárias medidas de proteção.

Tem o apoio da Câmara e da GNR e já teve situações em que chamou a Guarda para convencer regressados do estrangeiro. A quem está fora repete o apelo para que não vá para a aldeia.

Com a paragem das vendas ambulantes, é agora a junta de freguesia que garante que não falta nada a quem ali vive.

Leva o que precisam e em que se incluiu o que os idosos gostam: “conversar”.

A presidente entende que é importante ir regularmente à aldeia “para ver se eles se mantêm quietos”.

A freguesia tem obras previstas, mas não vai iniciar nenhuma porque agora a prioridade é o combate à covid-19.

O último balanço oficial dá conta de 30 mortes em Portugal e 2.362 infeções confirmadas.

O país encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de quinta-feira e até às 23:59 de 02 de abril.

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