O subdiretor-geral da Saúde considerou hoje que os hospitais estão a levar à letra a restrição de visitas por causa da pandemia da Covid-19 para impedir as grávidas de ter acompanhantes na sala de partos.
“Nós estamos a analisar isso e vamos emitir em breve uma orientação sobre esse assunto”, disse Diogo Cruz durante uma conferência de imprensa no Ministério da Saúde sobre a evolução da pandemia em Portugal.
“Eu tenho a impressão que isso será uma medida à letra da restrição de visitas”, indicou, instado a comentar os impedimentos à presença de acompanhantes durante o parto em hospitais e maternidades portugueses, apesar de a Organização Mundial de Saúde defender que as grávidas têm o direito à presença de uma pessoa, independentemente da suspeita ou confirmação de infeção por coronavírus.
O secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, considerou que “é preciso defender grávidas e bebés” e que “os familiares compreenderão esta medida de algum distanciamento”.
Na opinião do governante deverá manter-se a restrição porque se trata de “um determinado período de tempo, com um limite temporal”, apesar de não se saber ainda qual é esse limite.
Apesar de o secretário de Estado achar que o impedimento “tem sido muito bem aceite e compreendido”, há cerca de 6.400 pessoas que assinaram uma petição a pedir para que seja levantado.
“Seremos com certeza sensíveis a essa petição e faremos uma avaliação”, garantiu Lacerda Sales.
O dirigente da Associação Portuguesa pelos Direitos das Mulheres na Gravidez e no Parto Mário Santos disse hoje à Lusa que uma das questões que “tem sido mais difícil” é a restrição de as mulheres não poderem ter um acompanhante durante o trabalho de parto.
“Isso por um lado, pareceu-nos muito radical, mas por outro lado, e também ouvindo alguns profissionais, percebemos que na verdade nós não sabemos muito bem como lidar com esta situação”, disse, explicando que esta medida “poderá ser eventualmente uma resposta eficaz”, para reduzir o número de pessoas nos hospitais, mas é “muito danoso para a experiência de parto das mulheres”.
Sandra Oliveira, autora do livro Nascer Saudável, lamentou por seu turno, em declarações à Lusa, não haver, até à data, informação específica do que está a acontecer nos hospitais e nos blocos de partos.
“É importante num quadro de pandemia haver verdade e muita transparência naquilo que possa estar a acontecer nos hospitais para fazer restrições como as que estão a ser feitas às grávidas, no que diz respeito a um direito essencial de ter um acompanhante”, disse a ativista na área da saúde e da maternidade.
“As mulheres estão assustadas e acima de tudo num vazio enorme de informação. Não há estado de emergência nenhum que possa tirar o direito de informação”, de as mulheres saberem porque os hospitais estão a tomar estas medidas, defendeu.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 386 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram cerca de 17.000.
Em Portugal, há 30 mortes, mais sete do que na véspera, e 2.362 infeções confirmadas, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, que regista mais 302 casos do que na segunda-feira.
Dos infetados, 203 estão internados, 48 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 22 doentes que já recuperaram.
Portugal, onde o primeiro caso confirmado de infeção com o novo coronavírus foi registado em 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até às 23:59 de 02 de abril.