A viagem de celebração dos 500 anos da circum-navegação de Fernão de Magalhães vai ser interrompida e o navio-escola Sagres vai regressar a Lisboa em "meados de maio" devido ao risco da covid-19, anunciou hoje o Governo português.
"Face à situação de pandemia da covid-19, que afeta mais de 180 países em todo o mundo, o navio-escola Sagres, que ruma à Cidade do Cabo, na África do Sul, onde se prevê que chegue esta quarta-feira, dia 25 de março, recebeu ordens para regressar a Lisboa", indica um comunicado do Ministério da Defesa Nacional, hoje divulgado.
O ministério liderado por João Gomes Cravinho adianta que "o regresso a Lisboa do NRP Sagres está agora previsto para meados de maio".
O navio saiu da capital portuguesa no início de janeiro para uma viagem à volta do mundo que teria duração de pouco mais de um ano.
Previa-se que o navio passasse por 22 portos de 19 países diferentes e que seria a Casa de Portugal durante os Jogos Olímpicos de Tóquio, competição que foi hoje cancelada.
O Ministério da Defesa Nacional justifica que a decisão de interrupção da viagem "foi tomada na sequência das medidas de segurança que os diferentes países estão a adotar para protegerem os seus portos, Portugal incluído, limitando a atracação e desembarque de tripulações e passageiros de navios", o que inviabiliza "o pleno cumprimento da missão".
"Por haver restrições de desembarque em muitos portos e cidades, e por ser desaconselhável a realização de visitas ao navio, o Ministério da Defesa Nacional entendeu que não estavam reunidas as condições para prosseguir esta missão de promover o nome de Portugal pelo mundo e de celebrar, junto das populações e da diáspora, o feito histórico da primeira viagem de circum-navegação, iniciada há 500 anos por Fernão de Magalhães", acrescenta.
O Governo considera ainda que "a continuidade desta expedição poderia potenciar um maior risco de contágio entre os 142 elementos da guarnição, que se encontram bem de saúde".
A "possibilidade de se retomar a viagem de circum-navegação, eventualmente noutros moldes e com uma rota distinta, será equacionada quando for oportuno, e nomeadamente depois de extinta a atual pandemia", lê-se no comunicado.
Entretanto, através da sua conta na rede social 'Twitter', o ministro da Defesa revelou que "foi com muita tristeza, mas com consciência de ser inevitável", que foi tomada a decisão de mandar "regressar a Sagres".
"Já não era possível garantir a saúde dos nossos marinheiros, sempre prioritária, nem se conseguia, com portos fechados, cumprir a missão. Retomaremos quando houver condições", acrescenta João Gomes Cravinho.
Na sexta-feira, fonte diplomática disse à Lusa que a tripulação do navio-escola Sagres vai ficar confinada ao navio quando aportar na Cidade de Cabo devido aos riscos de contaminação com a Covid-19.
O navio-escola português, a navegar no Atlântico Sul rumo à África do Sul, foi autorizado em dezembro a atracar no porto durante 72 horas para receber apoio logístico, mantimentos, energia e outros, mas a tripulação não pode sair do navio, disse a mesma fonte à Lusa.
Depois desta paragem, o navio deveria rumar a Maputo (Moçambique).
No dia 07 de março, de partida da Argentina, o comandante do navio-escola, Maurício Camilo, admitiu que a tripulação estaria atenta aos riscos de contaminação com o covid-19, mas descartou qualquer tipo de receio.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 386 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram cerca de 17.000.
Vários países adotaram medidas excecionais, incluindo o regime de quarentena e o encerramento de fronteiras.
Em Portugal, há 30 mortes, mais sete do que na véspera, e 2.362 infeções confirmadas, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, que regista mais 302 casos do que na segunda-feira.