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Covid-19: Portugueses temem que pandemia agrave a crise na Venezuela

23-03-2020 17:37h

Apesar de concordarem com as medidas preventivas ao novo coronavírus adotadas pelo Governo venezuelano, os portugueses, em particular os comerciantes, temem que em breve a crise política, económica e social venha a afetar o país.

“A quarentena obriga que as empresas e comércios dos setores não básicos tenham que encerrar as suas portas. Entendemos que não há outra maneira, que prevenir uma expansão (local) do novo coronavírus, mas na prática isto paralisa setores importantes da economia”, disse o empresário Manuel Garcia à agência Lusa.

O proprietário de uma loja de ferragens em Caracas, de 60 anos, está preocupado e sente-se “de mãos atadas” por não ter indicações sobre quanto tempo poderá durar a quarentena no país, nem quanto demorará até haver um medicamento para a covid-19.

“A situação na Venezuela já era difícil, quer no político, onde há constantes tensões, quer no económico, com muita empresas e empresários a tentar aguentar com a esperança de que haveria uma melhoria, quer no social, com as pessoas a terem dificuldade no acesso a serviços básicos, a medicamentos e alguns até a uma alimentação de qualidade”, afirmou Manuel Garcia.

Por outro lado, Juan Correia, 63 anos, proprietário de um pequeno restaurante no centro de Caracas, explicou à Lusa que o novo coronavírus “fez que as pessoas tivessem medo de sair de casa”, acreditando, no entanto, que as medidas que estão a ser impostas pelas autoridades podem ajudar a superar a situação no país.

“Além do medo de sair de casa, quem vier aqui tem que trazer uma máscara tapando a boca, porque se não o fizer não pode entrar. Mas, não podem comer aqui, tudo o que comprem tem que ser para levar e isto agrava a situação”, notou.

Segundo Juan Correia as pessoas que frequentam os restaurantes vão para sentar-se, comer e beber, apenas muito poucas vão comprar para levar.

“Mas tudo mudou também porque já não há escola, os miúdos estão em casa. Os pais já não compram merendas para levar para a escola e as refeições agora são todas preparadas em casa. A situação está bastante difícil, temos que esperar para ver como as coisas evoluem”, explicou.

O comerciante lusodescendente José Gonçalves, 35 anos, vive momentos “de preocupação, incerteza e até de temor, sobretudo pelo futuro”.

“Na Venezuela temos problemas sociopolíticos, com a educação, com a Internet, a água, a eletricidade e agora, com o [novo] coronavírus, tudo se complica ainda mais e não sabemos por quanto tempo esta situação de quarentena se pode prolongar”, salientou.

José Gonçalves insiste em manifestar a sua preocupação sobre o futuro e sobre um eventual aumento de casos de pacientes infetados com a covid-19 na Venezuela.

“Estamos na expectativa. Não sabemos o que irá acontecer, se a pandemia se expandir aqui, como na Itália, não sabemos o que faremos e para onde iremos”, sublinhou.

Na Venezuela, país onde vive uma numerosa comunidade portuguesa, existem 77 casos confirmados de pacientes infetados com o novo coronavírus.

O país está desde 13 de março em “estado de alerta”, o que permite ao executivo decretar “decisões drásticas” para combater a pandemia.

O “estado de alerta” foi decretado por 30 dias, prorrogáveis por igual período.

Os voos nacionais e internacionais estão restringidos no país.

Desde 16 de março que os venezuelanos estão em quarentena, estando impedidos de circular livremente entre os vários estados do país.

As clínicas e hospitais estão abertos, as farmácias, os supermercados, padarias e restaurantes estão a funcionar em horário reduzido, com estes últimos a vender comida apenas para levar.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 341 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 15.100 morreram.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

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