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Covid-19: Parlamento húngaro bloqueia tentativa do executivo de governar por decreto

23-03-2020 17:32h

O parlamento húngaro bloqueou hoje uma tentativa do executivo do primeiro-ministro Viktor Orban de prolongar indefinidamente o estado de emergência decretado por causa do novo coronavírus e governar por decreto, incluindo sem controlo parlamentar.

A quase totalidade dos deputados da oposição, da esquerda à extrema-direita, rejeitou a proposta do Ministério da Justiça que solicitou com urgência uma emenda legal que permitiria ao Governo suspender as leis em vigor e incluindo a atividade parlamentar “justificada pela epidemia”.

Esta iniciativa requeria o apoio de 159 dos 199 deputados, 80% do conjunto dos assentos no hemiciclo. A proposta obteve apenas 137 votos.

Na próxima semana, o partido do Governo, o ultranacionalista Fidesz (União Cívica Húngara), poderá voltar a insistir na proposta através de uma votação ordinária, devido à maioria de dois terços que garante no parlamento.

A polémica emenda prevê, entre outras medidas, penas até cinco anos de prisão para quem publique informações falsas que “impossibilitem ou dificultem” as medidas contra a covid-19.

Diversas organizações não-governamentais e organizações internacionais, incluindo o Instituto Internacional de Imprensa (IPI, na sigla em inglês), criticaram o projeto.

“É um esforço para consolidar o controlo sobre a informação e que pode ser utilizado para intimidar e forçar à autocensura no que resta da imprensa independente [na Hungria]”, considerou em comunicado o diretor-adjunto do IPI, Scott Griffen.

O IPI solicitou à Comissão Europeia que pressione o Governo húngaro para uma alteração do projeto.

Previamente, a Comissão Europeia tinha frisado que a proposta de lei sobre o prolongamento do estado de emergência que o parlamento da Hungria começou hoje a debater deve conter “medidas proporcionadas e necessárias”.

Questionado em conferência de imprensa, um porta-voz da Comissão, Christian Wigand, recusou comentar a proposta que prevê a possibilidade de o primeiro-ministro governar por decreto r.

O porta-voz sublinhou no entanto que, “de uma forma geral”, “qualquer medida de emergência tomada em resposta à crise [do novo coronavírus] deve estar em conformidade com as obrigações internacionais e europeias em matéria de direitos humanos e deve, em particular, se proporcionada e necessária”.

As autoridades da Hungria confirmaram até ao momento 167 casos de covid-19, com sete mortos, apesar de o próprio Orbán ter reconhecido que o número de pessoas contagiadas pode ser muito mais elevado.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 341 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 15.100 morreram.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

O continente europeu é aquele onde está a surgir atualmente o maior número de casos, com a Itália a ser o país do mundo com maior número de vítimas mortais, com 5.476 mortos em 59.138 casos. Segundo as autoridades italianas, 7.024 dos infetados já estão curados.

A China, sem contar com os territórios de Hong Kong e Macau, onde a epidemia surgiu no final de dezembro, conta com um total de 81.054 casos, tendo sido registados 3.261 mortes.

Os países mais afetados a seguir à Itália e à China são a Espanha, com 2.182 mortos em 33.089 infeções, o Irão, com 1.812 mortes num total de 23.049 casos, a França, com 674 mortes (16.018 casos), e os Estados Unidos, com 390 mortes (31.057 casos).

Vários países adotaram medidas excecionais, incluindo o regime de quarentena e o encerramento de fronteiras.

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