A Unidade local de Saúde Gaia/Espinho (ULSGE) acredita que reduziu, em cerca de dois anos, em mais de 50% a incidência de infeções associadas aos cuidados de saúde graças a um programa que visa a melhoria de procedimentos.
O Stop Infeção 2.0 – um programa desenhado pela Direção-Geral de Saúde, a Fundação Gulbenkian e um instituto americano ligado à qualidade da saúde, o Institute for Healthcare Improvement – foi implementado na ULSGE em janeiro de 2023.
Com a implementação de novos procedimentos, intervenções que incluem os profissionais, mas também os doentes, a ULSGE acredita ter diminuído a incidência de infeção, evitado 13 mortes e 170 episódios de infeção, e alcançado uma poupança superior a um milhão de euros.
“Estes números são estimativas com base em dados e históricos de outros anos. Fomos analisar o período antes de iniciarmos o projeto e percebemos que a incidência baixou”, descreveu à Lusa o diretor do Serviço de Doenças Infecciosas da ULS Gaia/Espinho e coordenador da unidade de controlo de infeção, Tiago Teixeira.
Segundo a ULSGE estes resultados foram alcançados através da revisão e melhoria de procedimentos com destaque para a criação de uma consulta pré-operatória, na qual os doentes recebem instruções sobre os cuidados a adotar antes da cirurgia, incluindo o uso de esponjas antisséticas específicas para o banho pré-operatório.
“Outra mudança importante foi a decisão de realizar a tricotomia [remoção de pelos de uma área do corpo] exclusivamente no bloco operatório, aumentando a segurança e reduzindo significativamente o risco de infeção”, lê-se num resumo do projeto partilhado com a Lusa.
Tiago Teixeira acrescenta outros exemplos, desde o que pode ser considerado como mais óbvio que é a higienização das mãos, a mudanças na inclinação de camas.
“Se o doente estiver entubado e estiver muito tempo deitado, tem mais risco de aspirar bactérias. Percebemos que a partir do momento em que conseguimos garantir que nos intensivos a cama estava com uma inclinação correta, os resultados melhoraram. Ou seja a adesão a este indicador foi inversamente proporcional ao número de novas infeções. Se as pessoas aderirem [aos novos procedimentos] as infeções baixam”, descreveu
Ainda sobre a consulta pré-operatória, o coordenador da Unidade de Controlo de Infeção apontou dois ganhos a este novo procedimento: o doente ficar a saber melhor o que o espera no dia da cirurgia e ter dicas sobre como se preparar melhor.
“Às vezes o maior desconhecimento é fonte de morbilidade, de ansiedade e até de más práticas, tomas de medicação ou higiene feita erradamente”, resumiu.
A participação da ULSGE no Stop Infeções 2.0 focou-se na redução de cinco tipos de infeções associadas aos cuidados de saúde: infeção do local cirúrgico em cirurgia colorretal, infeção do local cirúrgico em artroplastias da anca e do joelho, infeção urinária associada ao cateter vesical, pneumonia associada à intubação e infeção relacionada com cateter venoso central.
Iniciado no serviço de ortopedia no início de 2023, o Stop Infeção 2.0 da ULSGE foi alargado a outros serviços, sendo objetivo que “deixe de ser um projeto e passe a ser o dia a dia comum, ou seja que os novos procedimentos passem a ser banais”, sublinhou o presidente do conselho de administração, Luís Matos.
À Lusa, o presidente da ULSGE reconheceu que as infeções adquiridas nos hospitais são “efetivamente um problema seríssimo em todo o lado, um problema mundial” que merece “uma profunda preocupação e reflexão”.
“Com este projeto alcançamos resultados muitíssimo bons e que nos dão confiança. Agora queremos expandir este projeto para a área da neonatologia. E depois para as áreas de cuidados intensivos”, revelou.
Feito um primeiro balanço deste projeto, a ULSGE destaca ainda a redução em 51% da infeção urinária associada ao cateter vesical e a redução em 56% da pneumonia associada à intubação na Medicina Intensiva, bem como redução em 57% das infeções em Ortopedia.