Associações de doentes exigem ao Governo, às principais entidades de saúde e aos deputados da Assembleia da República medidas urgentes para enfrentar o cancro, classificando-o como uma verdadeira “emergência de saúde pública”.
Numa carta aberta, divulgada no Dia dos Direitos Humanos, os oito signatários, associações de doentes e uma sociedade médica, recordam que, em Portugal, todos os dias, 191 pessoas recebem o diagnóstico de cancro e 92 morrem, números que evidenciam a gravidade do problema e a urgência de uma resposta política firme e coordenada.
“O cancro representa atualmente um dos principais desafios para a saúde pública e para a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, referem a AC Rim, a Careca Power, a Europacolon Portugal, a Associação EVITA - Cancro Hereditário, a Liga Portuguesa Contra o Cancro, a Plataforma Saúde em Diálogo, a Pulmonale e a Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde, no documento ao qual a agência Lusa teve acesso.
As associações defendem cinco áreas prioritárias de intervenção: reforço da prevenção primária, diagnóstico precoce e rastreios, acesso equitativo a tratamentos, geração e recolha de evidência com registo oncológico nacional e maior investimento em inovação.
Entre as propostas, destacam-se a criação de uma entidade específica para a oncologia, a revisão da “Via Verde” oncológica e o uso responsável da inteligência artificial para planos de tratamento individualizados.
O papel dos subscritores é sublinhado como essencial na defesa dos direitos dos doentes, na promoção da literacia em saúde e no apoio psicossocial.
Para tal, exigem reconhecimento institucional e financiamento adequado, de forma a poderem cumprir plenamente a sua missão.
No texto, é feito um convite à ação política imediata, com a marcação de reuniões formais com o Governo, Ministério da Saúde, Comissão Parlamentar de Saúde, Direção-Geral da Saúde, Direção Executiva do SNS e Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed).
As associações pedem compromissos públicos concretos e calendarizados, acompanhados de indicadores de avaliação e revisão periódica.
“Cada atraso num rastreio, num exame ou no acesso a tratamentos traduz-se em vidas e qualidade de vida perdidas”, alertam os signatários.
Para as associações, o combate ao cancro deve ser assumido como um desígnio nacional, exigindo coragem política, visão e humanidade.
As associações lembram que em 2022 se registaram 69.567 novos casos de cancro e 33.762 mortes, tornando a doença a segunda causa de morte no país.
Atualmente, existem mais de 203 mil casos prevalentes a cinco anos, ou seja pessoas que foram diagnosticadas com cancro e estão vivas passado esse período.
Este número deverá aumentar significativamente até 2050, em grande parte devido ao envelhecimento populacional.
A tendência preocupa também entre os mais jovens, onde os diagnósticos têm vindo a crescer, acompanhando padrões internacionais.
A carta alerta ainda para o impacto económico e social da doença.
Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o cancro poderá reduzir em 1,9 anos a esperança média de vida em Portugal até 2050.
Em 2021, perderam-se mais de 629 mil anos de vida saudável, com forte repercussão na participação laboral e nos encargos da Segurança Social e do SNS.
Apesar da gravidade da situação, segundo as associações, Portugal “continua a investir menos em saúde do que a média europeia, cerca de 38% abaixo”.
Em 2024, a despesa total em saúde ultrapassou 29 mil milhões de euros, dos quais 18,5 mil milhões corresponderam ao SNS.
Os medicamentos oncológicos representaram apenas 4% dessa despesa, apesar de estar demonstrado que “maior investimento em oncologia se traduz em melhores resultados e maior sobrevivência”, afirmam as associações.