Cerca de 200 pessoas em situação de sem-abrigo já tiveram acesso a consultas através do primeiro projeto dedicado a esta população nos Cuidados de Saúde Primários da ULS Lisboa Ocidental do Serviço Nacional de Saúde (SNS), foi hoje anunciado.
“Não se resume apenas (…) a fazer uma consulta ou um tratamento, mas sim garantir depois que a pessoa tenha a capacidade de pegar uma receita (…) e conseguir executar isso no seu dia-a-dia”, indicou o diretor clínico para a área dos cuidados de saúde primários na Unidade Local de Saúde Lisboa Ocidental, Nuno Basílio, aos jornalistas, a propósito da visita da ministra da saúde, Ana Paula Martins, ao local.
Desde de julho de 2024 que o projeto “Saúde para Todos” permite que as pessoas em situação de sem-abrigo, que podem não ter o cartão de cidadão ou enfrentar outras barreiras no acesso à saúde, tenham um acompanhamento médico regular, sendo que as consultas realizam-se todas as quartas-feiras.
O projeto, que decorre na Unidade de Saúde de Alcântara, em Lisboa, conta com o apoio de pelo menos 10 organizações que ajudam pessoas que pertencem a grupos vulneráveis.
“Percebemos que precisamos de ir mais além do que simplesmente esta narrativa de ‘vamos atribuir um médico de família a todos’ (…) mas olhar também aos determinantes sociais e aquilo que são outras barreiras que estas populações precisam”, acrescentou o diretor clínico.
A ministra da saúde disse que o "projeto extraordinário" permite que as pessoas em situação de sem-abrigo tenham acesso a cuidados preventivos e curativos, o que também contribui para a sua integração na sociedade.
“Projetos como este fazem falta ser replicados pelo país e, claramente, nesta zona onde estamos, em Lisboa e Vale do Tejo”, acrescentou a ministra, sublinhando que o SNS deve chegar às pessoas mais vulneráveis, que desconhecem o funcionamento do sistema de saúde ou não têm médico de família.
Segundo a Unidade Local de Saúde Lisboa Ocidental, as pessoas em situação de sem-abrigo enfrentam um risco de mortalidade duas a cinco vezes superior à da população em geral e uma maior prevalência de dependências, doenças infecciosas, doença coronária (por exemplo, enfartes) e perturbação mental.
No final do ano passado, foram contabilizadas 3.122 pessoas em situação de sem-abrigo em Lisboa, segundo o balanço deste ano do Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo (NPISA).