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Ordem dos Médicos diz que rede pediátrica é dinâmica e melhora articulação hospitalar

Lusa
30-10-2025 14:17h

O Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos afirmou hoje que a proposta da nova rede de referenciação pediátrica não altera o modelo existente, mas torna-o mais ágil e dinâmico, garantindo respostas mais rápidas e encaminhamento claro entre hospitais.

A proposta de Rede de Referenciação Hospitalar em Pediatria, em consulta pública até 10 de novembro, foi elaborada pela Comissão Nacional da Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente (CNSMCA), presidida por Alberto Caldas Afonso, e tem como objetivo central “a promoção de cuidados de saúde pediátricos de qualidade, acessíveis e integrados”, garantindo uma resposta adequada em todo o país.

Contactado pela agência Lusa, o presidente do Colégio de Pediatria, Ricardo Jorge da Costa, referiu que a nova rede representa sobretudo uma atualização da reorganização feita em 2022, tendo em conta o que mudou nos hospitais desde então.

“Houve hospitais que mudaram muito a sua estrutura porque houve uma mobilidade muito grande de pediatras e de algumas especialidades da pediatria”, disse, explicando que alguns serviços ficaram fragilizados e outros reforçados.

Segundo o responsável, a rede reorganiza cada serviço segundo a sua capacidade atual, garantindo respostas adequadas aos doentes.

“Criou-se uma forma mais rápida de contacto e de ligação entre os hospitais”, permitindo que casos complexos sejam encaminhados para equipas multidisciplinares de referência sem perda de tempo ou dispersão de recursos.

Ricardo Jorge da Costa destacou que a rede é dinâmica. Um hospital pode não ter capacidade para responder a determinado caso e encaminhar doentes para unidades com recursos adequados. Mas, se desenvolver competências, poderá assumir novas valências, alterando a rede de referenciação.

“Em vez de sobrecarregar um hospital diferenciado com doentes de vários serviços na mesma região, a rede permite encaminhar alguns casos para unidades que antes não tinham essa capacidade, mas que agora, após atualizações e reformulação dos serviços, podem assumir novas responsabilidades, explicou.

Questionado sobre desigualdades regionais, o especialista afirmou que “o país é muito heterogéneo em termos de recursos pediátricos”.

“No litoral, a população é numerosa e há muitos hospitais altamente diferenciados. No interior, a população é escassa e envelhecida, com um número reduzido de pediatras e subespecialidades”, disse.

Sublinhou não ser possível manter todas as especialidades para uma população tão pequena, sob risco de falta de experiência e ‘know-how’, sobretudo em patologias complexas ou novas, como as relacionadas com neurodesenvolvimento.

“Nestes casos, os doentes dependem dos centros de referência, que já dispõem de equipas, laboratórios e protocolos para investigação e acompanhamento especializados”, referiu.

O presidente salientou as longas distâncias que as famílias no interior têm de percorrer para aceder a cuidados especializados, situação que a nova rede pretende atenuar.

Em regiões isoladas, como a Serra da Estrela, famílias chegam a percorrer cerca de 200 quilómetros para aceder a cuidados pediátricos especializados em Coimbra, sem ligação direta à autoestrada.

Com canais de contacto direto entre hospitais e formação específica para unidades periféricas, os doentes podem ser estudados localmente e encaminhados apenas quando necessário, permitindo que os hospitais periféricos cresçam gradualmente em capacidade e experiência, graças à articulação com os centros de referência.

A rede está atualmente em consulta pública e sujeita a discussão. Ricardo Jorge da Costa disse que alguns pediatras já colocaram algumas dúvidas que serão esclarecidas junto da CNSMCA.

“O que queremos é que o documento seja eficaz e traga melhorias aos cuidados, tanto no ‘timing’ para organizar a transferência ou o estudo dos doentes como na utilização adequada dos recursos que não são infinitos”, declarou.

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