A agenda de residências artísticas do Imaginarius Centro de Criação (ICC), em Santa Maria da Feira, só em 2025 retomou o nível de atividade pré-pandemia, revelou hoje a autarquia.
Segundo o vereador da Cultura nesse município do distrito de Aveiro e Área Metropolitana do Porto, o referido equipamento com infraestruturas de apoio à criação artística iniciou a sua atividade em 2017 e acolheu nesse ano seis residências por artistas de cinco nacionalidades, após o que atingiu o seu pico em 2019, quando albergou 24 projetos por 15 criadores de quatro países.
No ano seguinte, contudo, a casa registou um corte drástico: devido ao confinamento imposto pela covid-19, ao fecho de salas e espaços de atuação presencial, e também às restrições de voos, a produção do ICC em 2020 ficou reduzida a três projetos, por três pessoas e igual número de nacionalidades.
Entretanto, o volume de residências em cada um dos anos seguintes foi de sete, 12, 15 e 20, até que, em outubro de 2025, o ICC já contabiliza novamente 24 projetos desenvolvidos nas suas instalações, por 19 artistas de oito países.
“Só agora, em 2025, é que nos voltamos a aproximar das dinâmicas pré-pandémicas, o que é um indicador relevante para compreender o que o setor cultural e criativo passou desde o início da pandemia”, declara Gil Ferreira à Lusa.
O autarca cessante realça que a atividade cultural no concelho não parou totalmente em 2020 e 2021, já que nesse período foram lançados “programas e chamadas públicas com enfoque na adaptação de conteúdos ao formato digital” e se retomou o formato presencial “sempre que tal foi permitido pelas autoridades de saúde pública”, mas, mesmo assim, salientou que a pandemia fragilizou o setor.
Entre os que se mantiveram no ativo e fizeram residências no ICC, o vereador realça três produções: “Final Gir”, do português Rui Paixão, que, após anos como ‘clown’, encenou esse espetáculo com a bailarina Rina Marques; “China Series”, do suíço Julian Voguel, que combinou uma série de performances, esculturas e publicações em torno do instrumento plástico de malabarismo conhecido como diabolo, mas neste caso feito de cerâmica e porcelana; e “Phloem”, da finlandesa Hanna Moisala, que fundiu artes circenses, som, movimento e gastronomia para realçar a importância das árvores e dar a provar ao público alguns alimentos gerados sob as suas copas.
Para Gil Ferreira, que desde 2017 aplicou mais de 840.000 euros nas residências artísticas do ICC (sem contabilizar os custos com funcionamento, manutenção e recursos humanos da casa), essas estadias permitem aos criadores convidados uma maior concentração no desenvolvimento dos seus projetos e podem ser decisivas para o seu trabalho, constituindo “um espaço de oportunidade para artistas emergentes ou em ponto de viragem” nas suas carreiras.
Prestes a cessar o seu terceiro e último mandato como vereador da Cultura na Feira, o autarca afirma que o ICC teve assim o mérito de elevar o festival anual de teatro de rua Imaginarius para um outro patamar: de mero apresentador de espetáculos, transformou-o num efetivo “centro produtor de conteúdos”.
Por desenvolver fica a cultura geral dos próprios públicos. “Se é verdade que a Feira criou postos de trabalho e gerou qualificação profissional, isso não invalida os impactos negativos dessa estratégia na literacia da população, porque, face a oportunidades de emprego tão acessíveis, muitos jovens preferiram sair da escola mais cedo”, explica Gil Ferreira.
Indicando que todos os anos há no concelho “600 a 900 jovens que não trabalham nem estudam”, o vereador conclui: “O desafio que o município tem pela frente é taxa de literacia bruta da comunidade, na qual Santa Maria da Feira deve colocar investimento e atenção”.