A Sociedade Portuguesa de Pneumologia arrancou hoje com um estudo nacional que permitirá determinar o impacto da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), quinta causa de morte em Portugal, avaliar a gravidade e identificar quem apresenta fatores de risco.
Em declarações à agência Lusa, Jorge Ferreira, presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), explicou que a doença está muito subdiagnosticada, lembrando que só quando se conhece a realidade de uma doença é possível definir políticas públicas ajustadas.
“A informação que nós temos relativamente à DPOC é, de facto, relativamente limitada”, disse o responsável, acrescentando que os dados disponíveis, que têm cerca de 20 anos, estimavam uma prevalência na ordem de 14,2% em Portugal.
Jorge Ferreira explicou que o estudo abrangerá mais de 6.000 pessoas com mais de 20 anos a nível nacional e vai permitir, igualmente, avaliar a prevalência da asma e outras condições respiratórias, o que torna o trabalho inovador.
“Vai também recolher informação sobre os hábitos tabágicos, a atividade física, ansiedade, depressão e, no fundo, ampliar o conhecimento sobre doenças pulmonares”, acrescentou.
Se tudo correr como previsto, deverá estar concluída em maio a recolha de dados e, no verão de 2026, já deverá haver dados atualizados sobre a DPOC em Portugal.
O responsável destaca o facto de este estudo abranger pessoas “mais jovens do que é o padrão usual” nestes trabalhos, sublinhando que o que se pretende é ter informação o mais precocemente possível relativamente à doença.
“Sendo uma doença maioritariamente relacionada com o consumo de tabaco, ela está também relacionada com uma predisposição genética, com fatores de ordem ambiental e, por exemplo, com uma história de infeções respiratórias durante a primeira infância”, explicou o presidente da SPP, sublinhando que “este conhecimento nunca foi abordado” em anteriores trabalhos.
Destacou ainda a importância de promover estratégias de rastreio o mais cedo possível, lembrando que, se agora a DPOC é a quinta causa de morte em Portugal, estima-se que em 2030 poderá subir para o quarto lugar.
“É uma evolução preocupante. Ela resulta, maioritariamente, dos hábitos tabágicos, mas também do estilo de vida, da própria poluição atmosférica, do risco profissional que está alocado a algumas profissões”, afirmou o especialista, acrescentando: “Só é possível estruturar medidas eficazes que visem prevenir se houver um retrato atualizado”.
O estudo que arrancou esta semana incide na população em geral - e não só nas pessoas com DPOC - e os autores esperam no final terem não só dados “substancialmente diferentes dos atuais”, mas, acima de tudo, “o espelho da realidade”, para que as políticas públicas se possam adequar.
“Senão, partimos de pressupostos que, muitas vezes, estão errados”, afirmou, recordando que este trabalho vai permitir também compreender assimetrias regionais relativamente à doença.
Como o estudo vai seguir a carta geográfica e demográfica do país, será possível perceber mais relativamente a aspetos que não são exclusivamente alocados à DPOC, mas que, por exemplo, estão relacionados com comorbilidades, com o diagnóstico de asma e até de uma situação de sobreposição entre as duas doenças, uma situação que constitui um risco especial relativamente à sua evolução clínica.
“É a primeira vez que no nosso país se realiza um estudo com uma metodologia semelhante e até com esta vontade de recolher informação, no fundo, sobre três doenças: asma, DPOC e a sobreposição entre as duas doenças”, concluiu Jorge Ferreira, sublinhando que esta será a primeira oportunidade de investigar a prevalência real destas doenças no país e as características das pessoas por elas afetadas.