Uma avaliação feita pela Organização Mundial de Saúde (OMS) indicou doenças transmitidas por água contaminada ou mosquitos, bem como perturbações mentais, como riscos de saúde pública, no atual período pós-cheias na ilha de São Vicente, Cabo Verde.
As chuvas torrenciais da tempestade de 11 de agosto provocaram nove mortes, dois desaparecidos e destruição de infraestruturas na ilha cabo-verdiana.
“Observa-se um aumento dos casos de diarreia e infeções respiratórias, no entanto, a situação mantém-se dentro do limiar de alerta. Devido às precárias condições de água e saneamento, foram mobilizadas equipas para reforçar a vigilância ativa das doenças com maior risco de ocorrência”, lê-se no documento, datado de sexta-feira e consultado hoje pela Lusa.
Segundo a OMS, “foram emitidos alertas devido a casos de diarreia, febre e dores de cabeça” entre pessoas que estiveram abrigadas em escolas (nove casos, incluindo duas crianças) e noutro centro instalado no Estádio do Mindelo (seis casos em adultos).
O acesso limitado a água, saneamento e higiene “é um fator de risco fundamental para a diarreia aguda” e as inundações, após uma seca prolongada, “podem aumentar a exposição a agentes patogénicos diarreicos: as condições de seca concentram-nos e são depois libertados com as águas das cheias, aumentando o risco de transmissão de doenças”, descreveu o documento.
O risco de surtos de gastroenterite em São Vicente “aumentou significativamente”, associado a uma “baixa perceção de risco em relação à segurança alimentar, precárias condições de higiene e saneamento e relatos frequentes de surtos de origem alimentar entre residentes e turistas”.
No caso do risco de doenças transmitidas por vetores, como o mosquito, em que se enquadram a dengue, a malária e outras arboviroses, o risco “aumentou significativamente”, devido às águas paradas que se acumularam após as cheias.
“O ministério da Saúde e um entomologista da OMS foram enviados a São Vicente para avaliar o impacto das inundações no risco de doenças transmitidas por mosquitos”, informou a OMS, notando que o Governo de Cabo Verde já tinha declarado, a 01 de agosto, “uma situação de contingência nacional, com base na necessidade de prevenir e mitigar o potencial risco de propagação da dengue e de reintrodução da malária”.
Por outro lado, as cheias em São Vicente “afetaram significativamente as condições de saúde mental nas comunidades atingidas”, por causa da “destruição de casas, deslocação de famílias, perda de meios de subsistência e interrupção de serviços essenciais”, acrescenta.
Todos são fatores que contribuíram “para o aumento dos níveis de sofrimento psicológico, ansiedade e trauma”.
Embora a produção de água tenha sido restaurada, “o sistema de distribuição ainda não está totalmente funcional e as vulnerabilidades no sistema de drenagem persistem”.
Além disso, foram observadas “limitações na gestão de resíduos sólidos e resíduos hospitalares, juntamente com a persistência de carcaças de animais nalgumas comunidades, representando riscos adicionais para a saúde pública”, indica ainda o documento.
A OMS alerta ainda para o risco de aumento da insegurança alimentar, tal como a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO, sigla em inglês) já havia previsto na última semana.
A tempestade atingiu os meios de subsistência, “com gravidade”, especialmente entre “pequenos agricultores e famílias de pescadores, que também sofreram destruição de culturas, sistemas de irrigação, barcos e bens. Zonas agrícolas importantes, como a Ribeira de Calhau, Tchon d'Holanda e Ribeira de Vinha sofreram danos extensos, com pequenos agricultores a perderem culturas e gado”, descreveu.
A OMS está a prestar apoio técnico e financeiro para recursos humanos, transporte e material médico, vigilância epidemiológica, envio de psicólogos e ainda para suportar o alargamento do horário de funcionamento dos centros de saúde e a instalação de um incinerador de resíduos hospitalares.