A Direção-Geral da Proteção Civil e das Operações de Ajuda Humanitária Europeias (ECHO) estima que 114.208 crianças menores de 5 anos sofram de subnutrição aguda em Moçambique este ano, incluindo 29.903 na forma mais grave, foi hoje anunciado.
"Os principais fatores de insegurança alimentar aguda em Moçambique incluem o conflito em curso na região norte do país, o impacto da seca induzida pelo El Niño, ciclones recorrentes e outros choques climáticos", lê-se num comunicado do ECHO, consultado pela Lusa.
De acordo com o organismo, ao longo de 2025 estima-se que 114.208 crianças com menos de 5 anos sofram de subnutrição - forma de desnutrição que resulta da ingestão insuficiente de nutrientes essenciais - aguda, incluindo 29.903 de subnutrição aguda grave.
Fazendo referência ao recente relatório da Classificação Integrada das Fases de Segurança Alimentar - IPC em Moçambique, o ECHO avança que, entre abril e setembro de 2025, cerca de 2,1 milhões de pessoas enfrentam níveis de insegurança alimentar "críticos ou piores" (IPC3+), incluindo cerca de 142.893 em níveis de emergência (IPC4).
"Para a próxima época de escassez (outubro de 2025 a março de 2026), projeta-se que a situação se agrave, estando previstos 2,67 milhões de pessoas no IPC3+, incluindo 170.183 no IPC4", avança.
A Direção-Geral da Ajuda Humanitária e da Proteção Civil alerta ainda que a província de Cabo Delgado, norte do país, rica em gás e que enfrenta uma insurgência armada desde 2017, continua a ser uma situação particularmente preocupante, com 724.819 pessoas atualmente no nível IPC3+, incluindo 71.085 no IPC4.
"Os distritos de Chiúre, Macomia e Macímboa da Praia são os mais afetados. Partes das províncias de Nampula, Tete e Sofala também apresentam níveis elevados de casos de IPC3+", acrescenta-se no documento.
Em 13 de agosto, o Governo moçambicano avançou que os níveis de desnutrição crónica em crianças moçambicanas menores de 5 anos reduziram seis pontos percentuais em dez anos, para 37% em 2023, prevalecendo entre as causas os desastres naturais "intensos e cíclicos".
"A taxa de desnutrição crónica em crianças menores de 5 anos de idade reduziu de 43% em 2013 para 37% em 2023. Contudo, os níveis de desnutrição crónica em crianças menores de 5 anos de idade no nosso país ainda são elevados, tendo em conta os parâmetros estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 20%", disse na altura Benvinda Levi, primeira-ministra moçambicana, em Maputo.
Segundo a governante, vários fatores contribuem para o elevado índice de desnutrição crónica no país, como os desastres naturais "intensos e cíclicos", caracterizados por secas, inundações, ciclones tropicais e epidemias, "que impactam negativamente na segurança alimentar".
O Observatório do Meio Rural (OMR), Organização Não-Governamental (ONG) moçambicana, alertou em finais de julho que Moçambique continua a registar níveis críticos de desnutrição crónica e insegurança alimentar, apontando para consequências a longo prazo.
Grupos de organizações da sociedade civil no país têm alertado para a urgência no combate à desnutrição infantil em Moçambique, situação agravada por fatores climáticos e de segurança.
Segundo dados do Governo, dois milhões de moçambicanos estão em situação de insegurança alimentar, dos quais 148 mil necessitam de "assistência humanitária urgente”.
Só entre dezembro e março, o país já foi atingido por três ciclones, que, além da destruição de milhares de casas e infraestruturas, provocaram centenas de mortos no norte e centro do país.
Os eventos extremos provocaram pelo menos 1.016 mortos em Moçambique entre 2019 e 2023, afetando cerca de 4,9 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística.